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Destino do prédio da antiga cadeia pública será decidido pela população

Imóvel histórico será revitalizado pela SEC e especialistas sugerem que seja usado como centro cultural ou um museu

Prédio da cadeia pública Vidal Pessoal está desativado desde 2017 (Foto: Paulo Bindá)

O prédio histórico onde um dia funcionou a Cadeia Pública Desembargador Vidal Pessoa, no Centro de Manaus, está prestes a passar por uma revitalização significativa. O espaço centenário já foi palco dos noticiários ao longo dos anos, seja por rebeliões, tentativas e até sobre os seus internos. Desativada desde 2017, o cadeia em breve terá nova história para contar, desta vez em outras áreas.

Na última segunda-feira (6), a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (SEC) e a Associação Pró Cultura e Promoção das Artes (Appa) fizeram um acordo para a reestruturação do prédio, que terá uma nova função, ainda não definida.

Na ocasião da assinatura do acordo, os representantes da SEC e Appa anunciaram também que, a partir de agora, inicia-se a fase de escuta pública. Ou seja, as entidades querem a participação da sociedade civil para decidir o destino do prédio centenário. E os corredores e paredes que foram cenário de histórias sombrias, incluindo massacres, agora têm a chance de receber uma nova narrativa.

Após o anúncio de reestruturação da Cadeia Pública, as discussões sobre o destino do prédio ganham vida. O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU-AM), arquiteto Jean Faria, afirma que o prédio tem uma gama de possibilidades e usos distintos. Ele imagina que o espaço pode ser convertido em um museu, um centro histórico ou até mesmo um centro de tecnologia.

“A gente está falando de um prédio histórico e ele tem uma carga histórica gigantesca, não só por conta de a construção ser da época áurea da borracha, mas a carga talvez um pouco negativa pelo uso que o prédio tinha, por tudo que deve ter acontecido ali dentro”, refletiu o arquiteto.

Marco histórico

Tombado como Monumento Histórico do Amazonas, o local está desativado desde 2017. O professor e historiador Fábio Augusto Pedrosa conta que a Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, inaugurada em 1907, foi um marco na história do sistema penitenciário do Amazonas.

 “Até então os presos ficavam acondicionados na precária cadeia localizada na Praça Dom Pedro II, onde hoje fica o Palácio Rio Branco, erguida em meados do século XIX. Era uma construção coberta de palha e insalubre. Naquele momento ela já não tinha mais condições de receber novos internos, pois além de atender a capital, atendia os municípios do interior. Para desafogar o sistema, o governo distribuía os presos entre delegacias, hospitais, quartéis e mesmo sanatórios”, conta o historiador.

Para tentar resolver esse problema de superlotação, o historiador conta que o governador Antônio Constantino Nery (1904-1908) mandou construir a Casa de Detenção de Manaus, posteriormente Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, inaugurada em 19 de março de 1907.

“Em pouco tempo ela ficou lotada, não tendo condições mínimas de receber novos internos. Como solução, a Casa de Detenção foi transferida para Paricatuba em 1916. Ela só volta a funcionar na avenida Sete de Setembro em 1924, e a partir daí até 2017, quando foi desativada”, relatou o historiador.

Especulações 

Ao longo desses anos, muitas foram as especulações a respeito do destino do emblemático prédio. Em fevereiro do ano passado, a Arquidiocese de Manaus entregou uma carta de intenção à SEC, apresentando o desejo em ocupar o espaço para o desenvolvimento de projetos sociais em favor de pessoas em vulnerabilidade social.

Na ocasião, o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, afirmou que já tinha tido alguns encontros para tratar da parceria entre a arquidiocese, Prefeitura de Manaus e governo do Estado. Dom Leonardo também fez visitas ao espaço que seria reformado e entregue em condições de uso para o desenvolvimento dos trabalhos caritativos, através da Cáritas, Pastorais Sociais, Pastoral do Povo de Rua e Pastoral do Migrante.

Sugestões para o futuro

O representante da Appa, Felipe Vieira Xavier, apresentou um pré-projeto de revitalização do prédio com previsão orçamentária de R$ 50 milhões. A revitalização incluiria um auditório, concha acústica e salas de oficinas artísticas, no que seria um novo centro cultural em Manaus. Felipe ressaltou, porém, que o pré-projeto está sujeito a escutas públicas, que serão realizadas ao longo do período de captação de recursos.

Segundo o secretário de Cultura do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, o objetivo é utilizar o prédio como uma referência cultural, mas, inicialmente, o foco será a reestruturação do espaço e, posteriormente, será decidido como o local irá funcionar de fato.

Centro cultural

Para  o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU-AM), arquiteto Jean Faria, o prédio poderia ser um centro cultural porque geraria movimentação de público. Já o museu seria um resgate histórico da identidade, para que o visitante entendesse os principais acontecimentos do prédio enquanto cadeia pública.

Projeto de revitalização do prédio tem previsão de R$ 50 milhões e inclui auditório, concha acústica e salas de oficinas artísticas (Foto: Márcio Silva)
Projeto de revitalização do prédio tem previsão de R$ 50 milhões e inclui auditório, concha acústica e salas de oficinas artísticas (Foto: Márcio Silva)

Mas, ele acredita que, talvez, Manaus não tenha público ou pessoas que vão visitar o museu com frequência, a exemplo do museu do índio e outros museus que fecharam.

“Ao passo que quando você cria um centro de tecnologia, que você pode criar ali, dar um uso totalmente diferente, mostrar que aquilo pode ter vida, sucesso, ser alegre e pode ajudar a desenvolver a cidade, talvez me pareça um tanto quanto melhor o uso desse prédio público”, propôs o arquiteto.

Museu

Uma sugestão também foi dada pelo historiador Fábio Augusto Pedrosa, que propõe que o prédio poderia funcionar como um centro cultural ou um museu contando as transformações do sistema penitenciário do Amazonas desde os primórdios aos dias de hoje.

“Como patrimônio, ele merece ter um fim social que atenda a população de Manaus, para que ela se aproprie desse bem histórico”, defendeu.

Enfim, diversas sugestões têm surgido, refletindo o desejo de anos de uma população em tornar o prédio- cujas paredes estão impregnadas de memórias sombrias- em um espaço de renovação e esperança.

Com previsão de início das obras em 2024 e entrega para 2028, a população tem em mãos a oportunidade de se engajar para decidir o destino do prédio que acima de tudo é público.

 

*Fonte: A Crítica

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