A agricultura globalizada, baseada na monocultura de pouquíssimas espécies vegetais não é sustentável. Nunca foi. Os Sistemas Alimentares atuais, do Brasil à China, são baseados no agronegócio, que colaboram para a desigualdade social, para as mudanças climáticas, para a obesidade e doenças crônicas das populações e para a crise global da fome e insegurança alimentar, sobretudo, das populações em países em desenvolvimento.
Enquanto isso, a Agricultura Familiar recebe pouco investimento dos governos e ainda tem as suas áreas de cultivo cada vez mais restritas e precarizadas. O que favorece, dessa forma, o modelo atual de Sistemas Alimentares predominantes. É praticamente impossível o pequeno agricultor disputar espaços com o grande produtor no mercado varejista. O que sobra para o pequeno agricultor, aquele que luta debaixo do sol, de domingo a domingo, com a enxada nas mãos, são as pequenas feiras agroecológicas para escoar a produção.
No artigo “Alimentação e Sustentabilidade” publicado no Portal Castello, eu trouxe a discussão e a pergunta sobre como alimentar oito bilhões de pessoas no mundo sem degradar a terra de forma irreversível, tendo em vista que o modelo convencional do agronegócio destrói os recursos naturais ao mesmo tempo que não consegue alimentar todas as pessoas. Me propus ainda a apresentar alguns modelos de Sistemas Alimentares sustentáveis que podem ser uma alternativa rumo a uma agricultura ecológica, justa para o planeta, para as pessoas e todos os outros seres que aqui habitam.
Começo então falando da Agroecologia. Uma forma de produção sustentável que orienta as formas de vida a partir dos cuidados com a terra, da biodiversidade e da produção de alimentos saudáveis. A agroecologia tem como princípio fundamental o uso racional dos recursos naturais e objetiva a criação de sistemas agrícolas sustentáveis, nos quais os recursos naturais são utilizados de maneira eficiente, respeitando e validando os saberes empíricos de comunidades campesinas, indígenas e da agricultura familiar, para produzir alimentos frescos, variados e livres de agrotóxicos.
A Agroecologia, portanto, é um dos caminhos viáveis para ajudar a evitar o colapso alimentar e ambiental no planeta. É um dos caminhos possíveis e reais para se obter a segurança alimentar e nutricional das populações.
O Sistema Agroflorestal (SAF), conhecido também como Agrofloresta, é uma vocação do Brasil. País com o maior bioma do mundo. Inclusive, já existem modelos de SAFs em terras brasileiras que são um sucesso. A agrofloresta é um modelo de produção sustentável que promove melhorias socioambientais, contribui para a soberania e a segurança alimentar das famílias, além de restaurar as áreas degradadas e prover inúmeros serviços ecossistêmicos.
O SAF busca integrar de forma agroecológica o cultivo dos alimentos, consorciando árvores nativas, frutíferas, arbustos e plantas herbáceas alimentícias, com ou sem animais consorciados, o que representa uma alternativa sustentável para a produção de alimentos e renda para os agricultores.
Com a crescente preocupação planetária em relação às mudanças climáticas, a Agroecologia e a Agrofloresta surgem como uma alternativa viável para a produção ecológica de alimentos, ao mesmo tempo em que contribuem para o aumento da biodiversidade, restaurando a fertilidade de solos degradados e mitigando a emissão de gases de efeito estufa. E o melhor, sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos que degradam o solo e poluem os lençóis freáticos.
A Agroecologia e os Sistemas Agroflorestais, portanto, são exemplos de Sistemas Alimentares que respeitam o produtor e o consumidor do início ao fim da cadeia produtiva. Existem maneiras sustentáveis e inteligentes de garantir a diversidade alimentar da população do ponto de vista social, econômico e ambiental.
Não existe uma solução mágica, mas várias soluções que devem ser realizadas em conjunto e de forma sistemática para salvarmos o planeta da catástrofe eminente. A participação popular, por meio de conselhos como o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (CONSEA), é fundamental para que ocorram avanços significativos no campo dos Sistemas Alimentares Sustentáveis. É importante, sobretudo, fortalecer a Agricultura Familiar, facilitando o acesso aos alimentos regionais e fomentando a diversidade alimentar dentro dos contextos locais aos quais as populações estão inseridas.
Marilua Feitoza, jornalista, escritora e mestre em sustentabilidade na gestão ambiental.