Por volta de 2007, os professores de química da Woodland Park High School Aaron Sams e Jonathan Bergmann gravaram suas aulas expositivas para os alunos que necessitavam faltar às atividades presenciais para participarem de competições esportivas. Dessa forma, poderiam assistir às aulas posteriormente. No entanto, os professores perceberam que essas aulas não eram vistas apenas por esses alunos, e sim por vários outros estudantes com a intenção de reforço do aprendizado (BERGMANN; SAMS, 2012). A essa nova técnica na época deu-se o nome de flipped classroom.
Apesar de ser atribuído a esses professores, Trevelin, Pereira e Oliveira (2013) o termo flipped classroom não é recente e pode ter se iniciado nos estudos de Eric Mazur, na Universidade de Harvard, nos anos 90.
A técnica abordava a inserção do computador no ensino. Quanto a isso, cabe lembrar que, no Brasil, com o surgimento dos cursos preparatórios para o acesso à educação superior, as aulas eram gravadas e disponibilizadas aos alunos para reforço da aprendizagem.
A sala de aula invertida tem como principal característica o deslocamento do lugar do aprendizado e a autonomia do estudante. Baseia-se no uso de tecnologias, por exemplo, os vídeos, que podem ser gravados pelos próprios professores para serem vistos quando e como os alunos quiserem, mas normalmente antes da aula (TREVELIN; PEREIRA; OLIVEIRA, 2013).
A Flipped classroom, ou sala de aula invertida, é uma metodologia que inverte a lógica de organização da sala de aula e, também, as atividades propostas e executadas pelos envolvidos. Com ela, pode-se proceder a uma análise crítica dos conceitos empregados e perceber que, com a utilização da metodologia da sala de aula invertida, os alunos se tornam corresponsáveis no processo educacional: fazem levantamento de dados antes das abordagens conceituais e estudam por meio de recursos interativos. Por sua vez, o professor mestre ou doutor atua como mediador do conhecimento para tirar dúvidas, aprofundar o tema e estimular discussões. Tem-se, assim, um processo de ensino e de aprendizagem mais significativo, interativo e dialógico, que atende às necessidades de uma sociedade complexa.
Percebe-se, portanto, que além de ser necessário propor a reflexão da prática à luz de pressupostos paradigmáticos inovadores em uma visão progressista (FREIRE, 1992) e complexa (MORIN,
2000), torna-se necessário, também, afirmarem-se os pensamentos a partir da aplicação desses pressupostos de maneira relevante e crítica na ação docente em sala de aula.
Outra mudança dessa metodologia consiste no formato da aula expositiva. Com o uso dos vídeos, os alunos já sabem a parte teórica do conteúdo.
Assim, o professor pode aproveitar a aula como momento de reflexão, de crítica, para tirar dúvidas e para a colaboração entre os alunos e, com isso, avançar no aprendizado. Há discussões e interações, evitando-se a passividade e a individualidade. Cada um pode avançar conforme seu tempo no aprendizado e gerar suas próprias dúvidas e considerações.
Uma comunidade de pesquisadores da qual fazem parte Aaron Sams e Jonathan Bergmann, iniciadores dessa prática, apresentou os quatro pilares da sala de aula invertida, resumidos de tal forma que podem ser encaixados nas letras que formam a palavra FLIP:
F: Flexible environments – ambientes flexíveis de aprendizagem, nos quais o aluno aprende onde e como quiser.
L: Learning culture – cultura de aprendizado com a qual os estudantes constroem o conhecimento junto com o professor, que já não é detentor, e sim mediador do conhecimento.
I: Intentional content – conteúdo intencional constituído de videoaulas. Deve ser direcionado e ministrado de forma totalmente intencional e planejada, em coerência com a atividade prática.
P: Professional educators – professores profissionais, cujo papel é mais importante do que o apresentado no método tradicional.
Mais do que nunca, após a pandemia da COVID19, os mestres devem saber conduzir o aprendizado dentro e fora de sala de aula, lidar com reflexões e críticas e gerar essas posturas de modo motivador.
Corroborando essas ideias, Johnson (2011), na proposta do TED −Tecnologia, Entretenimento, Design, utiliza vídeos assistidos antes das aulas e, também, um acompanhamento de tarefas realizadas fora da escola e monitoradas por meio das tecnologias. Para Johnson (2011), essas tarefas devem ser realizadas pelos alunos quantas vezes forem necessárias e como quiserem. Ao professor cabe monitorar essas repetições e a evolução individual. Com isso, quando em sala de aula, pode-se ir direto às dúvidas e aos pontos nos quais foram detectados mais problemas de aprendizagem.
Dessa maneira, alunos que aprendem mais facilmente são estimulados a compartilharem conhecimentos com outros que apresentam dificuldades, a fim de que toda a comunidade acadêmica possa interagir e aprender/ensinar colaborativamente.
Com base na proposta de sala de aula invertida, originaram-se a Flipped Learning e a Flipped Learning Network, estratégias para aprendizagem baseadas no rearranjo físico das salas e em instruções de estudos, durante e fora das aulas.
Nota-se, com o exposto, que a sala de aula invertida está em acordo com os pressupostos do paradigma da complexidade e sua aplicação necessita de mudanças institucionais, físicas, filosóficas e administrativas, além de mudanças na práxis dos professores e da sociedade.
No próximo artigo, apresentarei pra vocês com mais detalhes características da sala de aula invertida para quem deseja ser ousado e criativo na trajetória da docência.
Este texto foi baseado no artigo A Sala de Aula Invertida como Metodologia Convergente ao Paradigma da Complexidade dos autores Carla Castello Branco, Marilda Aparecida Behrens, Paulo Fernando Martins, Sirley Terezinha Filipak..