A sala de aula invertida segue uma prática pedagógica voltada aos princípios da educação personalizada, na qual os estudantes podem aprender em seus próprios espaços e tempos individuais de aprendizagem. Tem por foco o estudante, já que o tempo em sala é aproveitado para dúvidas, atividades de participação e envolvimento ativo (BASAL, 2012).
Ainda, para o autor, a sala de aula invertida pode ser dividida em dois ambientes: dentro e fora da sala. No entanto, esses ambientes devem estar integrados, por meio de um planejamento pedagógico no qual o professor descreve o que deve ser feito dentro e fora da sala, o conteúdo do vídeo e as atividades a serem realizadas (BASAL, 2012). Para tanto, é proposto o uso de um sistema de gerenciamento de aprendizagem – Learning Management System (LMS), o qual auxilia professores e alunos nesse processo.
Para Herreid e Schiller (2013), o preço que se paga pela aproximação do estudante com as tarefas escolares promovidas pela sala de aula invertida é o tempo de preparação exigido do professor, pois precisa preparar as videoaulas, orientar os alunos em sala e lidar não mais com conhecimentos sólidos, mas com conhecimentos em construção. Portanto, ele precisa estar bem mais preparado. Para os autores, ainda existe resistência dos alunos a novos métodos, porque a maioria já está acostumada com a passividade.
Como se pode notar, a sala de aula invertida é uma proposta possível. No entanto, ela não exige menos, mas, sim, mais de todos os atores envolvidos no processo de aprendizagem. Ela exige mais do aluno, que se torna autônomo e mais responsável pelo seu aprendizado. Além disso, ela exige ação e reflexão dentro e fora da sala de aula. Os alunos passam de receptáculos a seres pensantes e construtores do conteúdo, que não está mais acabado e acumulado no professor, mas, sim, em construção e envolto em teias de complexidade.
Do professor, a sala de aula invertida exige planejamento, organização dos temas e problematização para provocar a reflexão crítica. Da instituição de ensino, exige ambientes apropriados, recursos tecnológicos adequados e pessoal técnico qualificado para gravar as videoaulas.
Tendo-se por base os conceitos apresentados sobre o paradigma da complexidade em um dos meus artigos no Portal Castello como articulista, a sala de aula invertida, pode-se perceber que há convergência entre eles.
Tanto o paradigma quanto a metodologia valorizam o aprendizado em uma visão complexa. O aprendizado passa a estar além do que o professor sabe sobre um assunto, já que o próprio aluno se apodera de elementos e materiais, conforme a necessidade. As atividades em conjunto na sala de aula, após entendimento prévio, podem resultar no compartilhamento de diferentes visões sobre o conteúdo pesquisado, gerando diferentes perspectivas e resultados. Os diferentes materiais e dinâmicas podem ampliar o alcance do conhecimento estudado.
Ambos, paradigma e metodologia, pressupõem a autonomia do aluno e permitem reflexão e crítica. Permitem que os mesmos, independentemente do nível escolar, tenham o controle sobre seu material e aprendizado, sendo, assim, ativos, pensantes e apliquem os conhecimentos nas atividades individuais e conjuntas, em espaço mais consolidado para a dúvida.
Os professores, no papel de mediadores, podem refletir sobre a aula, melhorar o processo de ensino e aprendizagem e atualizar conhecimentos ao proporem discussões com os alunos.
Por fim, tanto o paradigma da complexidade quanto a metodologia da sala de aula invertida estimulam a inter e a transdiciplinaridade. Aulas, temas e atividades podem ser usados como estímulo à discussão entre conteúdos e disciplinas, possibilitando que, em conjunto, sejam produzidos os materiais e desenvolvidas as atividades.
Pode-se perceber que a sala de aula invertida é uma forma de trabalho pedagógico compatível com o paradigma da complexidade, cujo planejamento, implantação e atuação favorecem o aprendizado dos estudantes e a prática pedagógica dos professores.
Este texto foi baseado no artigo A Sala de Aula Invertida como Metodologia Convergente ao Paradigma da Complexidade dos autores Carla Castello Branco, Marilda Aparecida Behrens, Paulo Fernando Martins, Sirley Terezinha Filipak..