Considerando que o processo de produção das reportagens veiculadas acontece a partir de percepções e escolhas, no qual o fluxo de informações tem que passar por diversos “gates” (portões) até a sua publicação, ou seja, geração de notícia. É óbvio que há intencionalidade, interesses dos mais variados na atuação da imprensa e que o processo é subjetivo. No jornalismo, as declarações das fontes são recortadas e adaptadas segundo a história que a notícia vai contar. Certamente, na apuração dos fatos, o profissional da imprensa deve retratar com fidelidade o desdobramento da pauta, caso contrário, estaríamos falando de ficção, e não de jornalismo. No entanto, mesmo quando o repórter busca ser fiel ao que a fonte diz, é possível na construção da matéria uma reorganização das declarações.
David Mainning White realizou um estudo sobre o fluxo de notícias dentro de uma redação e após análise constatou que poucas eram escolhidas e publicadas, então resolveu compreender quais pontos funcionavam como critérios. Os livros nos contam que David concluiu que a forma de escolher as notícias eram subjetivas e arbitrárias. Muitas foram rejeitadas por falta de espaço, outras consideradas repetidas e as pautas “desmoronavam”, antes mesmo do processo de apuração, e ainda havia as que não cumpriam o deadline, ou seja, ultrapassavam o tempo limite do fechamento das notícias. Tal constatação fez a teoria ir perdendo prestígio, gerando polêmica em diversas áreas que segmentam a sociedade e esbarrando em alguns fundamentos.
No entanto, há consensos não publicados pelos meios de comunicação que hierarquizam as notícias, afirmando a liberdade limitada dos jornalistas, isso porque a mídia também não tem autonomia plena. Sobre esta temática, a imprensa no Brasil historicamente foi muito atacada e a liberdade cerceada durante governos ditatoriais.
Nesse sábado 1° de junho de 2024, em homenagem ao Dia da Imprensa é importante o resgate da história, recordar a primeira publicação do jornal Correio Braziliense em 1808, a análise da Teoria Gatekeeper, até o reconhecimento sobre o importante papel dos veículos de comunicação para a sociedade.
Nos bancos universitários do curso de jornalismo, por exemplo, os docentes se esforçam para que os acadêmicos compreendam a importância da teoria no exercício da profissão, cujo domínio da fundamentação é a base para o diferencial na prática mercadológica. Desse modo, Barbosa e Morais (2011) esclarecem que em outras áreas parece claro que a dimensão teórica é parte integrante do saber fazer: ninguém se espanta ao saber que o engenheiro deve conhecer teoria de cálculo, que o médico deve saber profundamente anatomia, que o advogado deve estar familiarizado, por exemplo, com a teoria do direito civil.
Mas, na comunicação, o jovem aspirante à jornalista, o publicitário, a sociedade em geral, parecem resistentes quando faz-se necessário compreender para que “servem” e são úteis as teorias da comunicação, as teorias do jornalismo, a história da comunicação, a filosofia da comunicação, ou seja, qual importância do saber reflexivo que emana da comunicação. A Teoria Gatekeeper não deixa de estar presente diariamente em cada redação jornalística, a cada reunião de pauta, porém não desobriga a responsabilidade do jornalismo como principal segmento da comunicação de cumprir o papel de noticiar fatos relevantes e de interesse público.
Nas últimas duas décadas, o mundo passou por transformações devido às evoluções tecnológicas. O século XXI é considerado por muitos estudiosos da comunicação como uma nova era, ou seja, a da transformação de todas as mídias em transmissão digital, como se todo o mundo, independente do país em que o ser humano reside estivesse virando digital. As “antigas” e “novas” empresas de mídia estão se readaptando ao mercado à medida que as organizações diversificam produtos e serviços. A digitalização das mais variadas formas de conteúdo demonstrou que os meios de comunicação considerados tradicionais ficaram vulneráveis. A convergência das mídias aconteceu e a imprensa continua em processo de transição à medida que é real a capacidade de produzir conteúdo por meio de dispositivos móveis e transmitir, trocar e redistribuir esse material ampliando o acesso imediato à sociedade. Os meios de comunicação são potências de influências, são as ideias e valores veiculados pelas mídias que causam as principais transformações sociais, independente de quem a possui e controla.
Ainda convém entender que o público em geral confunde conteúdo midiático com jornalismo. Há veículos na atualidade no mercado que não existiam antes da internet, mas podemos explorar sobre este assunto em uma outra produção de artigo.
O trabalho da imprensa vai além do ambiente virtual. A imprensa faz parte da formação do pensamento crítico de uma sociedade. É por meio de fatos jornalísticos que é possível o acesso ao que acontece em locais distantes e regiões remotas, são coberturas que prestam serviços de utilidade pública ou até mesmo desvendam crimes inimagináveis.
Este texto foi baseado no artigo Gatekeeper: as portas estão escancaradas: Os meios de Comunicação estão sob controle? O uso das Tecnologias de Comunicação é fundamental para a sociedade da autora Carla Castello Branco para o Intercom.