As redações móveis são reflexos dos avanços tecnológicos e das transformações na prática jornalística. No passado não tão distante, era mais comum repórteres realizarem nos primeiros horários da manhã, a ronda em delegacias, hospitais, IML e Corpo de Bombeiros em busca do furo de reportagem. Na atualidade, o aplicativo WhatsApp é o meio mais utilizado para coletar informações. O objetivo deste artigo para o Portal Castello é elucidar fatos sobre a cidade, a política, a ciência, a economia, a cultura, os jogos de futebol, o cotidiano do cidadão comum ou célebre, o consumo desenfreado no mundo capitalista, as tendências da moda, a vida ou a morte, todas essas pautas que fazem parte de inúmeros desdobramentos de notícias produzidas nas redações jornalísticas, sejam elas móveis ou físicas, dependendo das transformações dos processos tecnológicos de cada época.
O jornal impresso, por exemplo, constituiu-se em uma época de transformações nos processos tecnológicos, mudanças essas quando Gutenberg inventou a prensa de tipos móveis, possibilitou que o trabalho – antes feito manualmente –, pudesse ser realizado por máquinas, abrindo caminho para o surgimento de uma indústria verdadeiramente capaz de produzir informações massivas e diárias (HOLANDA, 2017).
As tecnologias mudam também a organização do trabalho, dependendo da forma de utilizá-las em suas dimensões organizacionais, de tempo, espaço. Isso em relação a pequenas transmissões até a grandes coberturas jornalísticas. A indústria tecnológica transforma o modo de construir e distribuir notícias. Pode-se fazer uma analogia com o telégrafo, quando o jornalismo conquistou a possibilidade de se aproximar mais do fato a ser noticiado. O jornalismo móvel é a produção jornalística que utiliza tecnologias móveis digitais e de conexões de rede sem fio pelo repórter na prática jornalística. Assim, o aplicativo WhatsApp é um dos mais utilizados na produção de notícias, cujos números são maiores do que outras redes sociais, como Instagram e o antigo Twitter. O uso do WhatsApp para notícias quase triplicou desde 2014 e ultrapassou a importância da rede social X, antigo Twitter.
O Reuters Digital News Report descobriu que metade da amostra de usuários online na Malásia e no Brasil usa o WhatsApp para notícias. Entretanto, no dia (04/10/2021) o aplicativo teve blackout por quase oito horas, causando impacto financeiro e prejuízos nos mais variados modelos de negócios, afetando 2,8 bilhões de pessoas no mundo (JORNAL NACIONAL, 2021). Quais recursos instantâneos de troca de mensagens para a produção e circulação de informações foram utilizados por jornalistas de redações móveis durante o apagão do WhatsApp em 04/10/2021? Você tem ideia querido leitor(a) do Portal Castello?
O jornalismo, ao aderir o campo digital e a mobilidade expandida, confirma que novas configurações aportam com alterações no modus operandi de emitir e receber conteúdo. Bauman (2005) pode explicar essa transição a partir do processo de convergência jornalística como um dos aspectos interligados às perspectivas apontadas na condição da modernidade líquida, indicando mudanças estruturais na sociedade e, consequentemente, no próprio jornalismo a partir da influência da tecnologia digital em campo. Estamos agora passando da fase “sólida da modernidade para a fase fluída”. E os “fluídos” são assim chamados porque não conseguem manter a forma por muito, mesmo num recipiente apertado, continuam mudando de forma sob influência até mesmo das menores forças. E vai além, tudo isso é como habitar um universo, onde ninguém, em lugar algum pode apontar a diferença entre um caminho ascendente e um declive acentuado (BAUMAN, 2005, p. 57).
Nesse sentido, em espaços virtuais imprevisíveis considerados pelo autor em profundas transformações, a comunicação é realizada por redes sociais digitais de relacionamentos. Arrisco a afirmar que as redes sociais trouxeram um novo olhar na abordagem sociológica, pois os usuários produzem uma grande quantidade de interações entre atores sociais (pessoas, instituições, grupos) que, no passado, não era possível obter em tamanha extensão ou facilidade. Bauman (2005, p. 96) diz que “as identidades manifestadas nesse mundo líquido são para usar e exibir, não para armazenar e manter”. Para Bauman (2005) há uma relação entre as redes sociais e a sociedade de consumo moderna. O sociólogo faz essa associação a partir do rápido consumo e descarte de produtos também envolvidos com as relações humanas. Para o autor, as relações sociais são consumidas igualmente a um produto que por não ter um laço forte entre as pessoas refletem na fragilização das suas conexões mentais. Em síntese, é possível diferenciar redes sociais e mídias sociais como Bauman aludiu a sociedade de consumo, isso é, as redes sociais referem–se a relações humanas e mídias sociais, a produto. E, em se tratando de produto, o WhatsApp, aplicativo de troca de mensagens instantâneas, é utilizado atualmente como uma ferramenta de produção e consumo de notícias: para os jornalistas, o WhatsApp não é apenas um aplicativo para chegar às fontes, mas também aos seus públicos. O WhatsApp permite troca de mensagens em áudio e vídeo pela internet, embora originalmente tenha se destinado apenas para comunicação interpessoal.
Há uma versão do navegador para computadores desktop, mas foi projetado para uso em dispositivos móveis e é usado com mais frequência em smartphones, tornando-o uma ferramenta de comunicação inerentemente móvel. Os smartphones existem em um grande número, e, por serem móveis, acompanham as pessoas em todos os lugares; aliado a isso, o aplicativo é amplamente utilizado e tornou-se um instrumento relevante para o jornalismo digital. Em 2024, as análises do WhatsApp como ferramenta jornalística são escassas. Estudos anteriores sobre a plataforma e jornalismo focam principalmente no aplicativo como uma ferramenta de comunicação. Estudos discutem o recurso na perspectiva do público, analisando como os usuários usam aplicativos de troca de mensagens em smartphones para notícias e compartilham e discutem notícias dentro de um grupo de amigos.
Reuters Digital News Report descreve como a dinâmica em que os usuários confiam menos no Facebook e mais no WhatsApp para notícias é impulsionada pela projeção feita pela própria marca, é associado a “melhor amigo, diversão, aproxima as pessoas”. Pesquisas que citam o aplicativo como ferramenta de comunicação para jornalistas enfocam a função do aplicativo no sistema de produção de conteúdo, por exemplo, jornalistas que usam o recurso para se comunicar entre uma rede de repórteres. A função de engajamento dos canais WhatsApp tem sido explorada nas redações do Brasil, onde seu uso para notícias está entre os maiores do mundo. Angeluci, Scolari e Donato (2017) descobriram que jornalistas usam canais do aplicativo para obter informações de seus públicos, por exemplo, texto, áudio e imagens em situações de notícias de última hora. Em contraste com a mídia social, a informação é exclusiva de um meio de comunicação. Além disso, os jornalistas usam o Whats para fazer com que os usuários se sintam mais próximos da redação, por exemplo, ao citarem suas mensagens em seus conteúdos. Solto (2016) diferencia três maneiras de como os jornalistas integram o público no processo editorial: como uma estratégia economicamente motivada para construir a fidelidade do público (análise editorial), como uma chance de enriquecer a diversidade no discurso público (participação) e – tornando-se aparente mais recentemente – como um desafio originado de discurso de ódio, propaganda e outro conteúdo indesejado postado on-line.
Ah, já ia me esquecendo. Antes de finalizar vou responder a indagação que deixei lá no início. Quanto ao apagão do WhatsApp no Brasil e no mundo. A paralisação da rede gerou um tombo no valor de mercado em U$ 6 bilhões em um único dia. De acordo com Renata Lo Prete (2021), no Jornal da Globo, foram mais de seis horas sem três das maiores redes sociais do planeta, todas pertencentes à empresa de Mark Zuckerberg. O Jornal Nacional também noticiou a pane das três redes sociais, afirmando que afetou 2,8 bilhões de pessoas no mundo. Os aplicativos pararam de funcionar por volta das 12h45 de Brasília, provocando impacto financeiro e prejuízos nos mais variados tipos de negócio. Matéria exibida no JN coletou relatos de pessoas que necessitavam do WhatsApp para comunicar desde a entrega de produtos e serviços, até trabalho de faculdade e mesmo jovens que queriam avisar aos pais que estavam bem. Houve impacto também nas empresas que adotam o home office e possuem funcionários trabalhando em casa, quando a comunicação ficou truncada. Consultórios, serviços e até tribunais de justiça tiveram dificuldade de confirmar agendamentos. Autônomos e pequenas empresas também tiveram prejuízos porque precisavam das redes sociais para funcionarem, seja para passar orçamentos ou para delivery – caso de motoboys que ganham por entrega –, e necessitavam do aplicativo. Restaurantes, pelo menos 175 mil deles, a maior parte de São Paulo, usam o WhatsApp para vender e sentiram no caixa a indisponibilidade da rede. Além do prejuízo com as refeições que com a paralisação do app deixaram de ser entregues no percurso (JN, G1, 2021).
As notícias chegam ao X praticamente de forma instantânea quando ocorre algum tipo de pane nas redes sociais. Por ser uma alternativa de comunicação por meio do recurso de mensagens diretas, é possível trocar mensagens de texto, vídeos, imagens e até áudios. A diferença é que a comunicação não é intermediada pelo número de telefone, mas sim pelas contas dos usuários. De acordo com Caselli e Pimenta (2015), o antigo Twitter possui a função no plantão noticioso, no fato “aqui e agora” por ampliar o alcance das nossas percepções. O que se vê, ouve e pensa, pode ser twittado com instantaneidade a milhões de pessoas conectadas no mundo. Por esse motivo, pode gerar pauta por meio do conteúdo que circula nesse ambiente, já que gera a todo o momento milhares de posts informativos que merecem apuração e avaliação por parte de quem trabalha com a produção de notícias. Entretanto, por serem mensagens instantâneas, aplicativos também como Telegram e Signal na ocasião do apagão tiveram aumento em seus downloads de até 1.090% com a interrupção do funcionamento do WhatsApp.
Em 2022, o WhatsApp tinha mais de 2 bilhões de usuários. Em 4 anos, o app ganhou 1 bilhão de novos usuários (2016-2020). O Brasil é o segundo País que mais utiliza o WhatsApp, perdendo apenas para a Índia.