A produção de condicionadores de ar puxou para cima o faturamento do Polo Industrial de Manaus (PIM) nos cinco primeiros meses de 2024. As fábricas registraram crescimento de 75,3% na produção de condicionadores de ar do tipo split system, chegando a 2.280.020 unidades até o mês de maio.
Nos condicionadores de ar de janela ou de parede, o crescimento foi ainda maior: 215,29%, com 168.339 unidades fabricadas. O número de vendas também se mostra alto: até maio de 2024, foram vendidas 163.786 unidades de condicionadores de ar de janela e 2.414.067 do tipo split.
Ambos os itens fazem parte do segmento Eletroeletrônico, um dos grandes destaques do PIM entre janeiro e maio deste ano, faturando um montante de R$ 14,4 bilhões. Os condicionadores do tipo janela contribuíram com R$ 220,5 milhões, enquanto os do tipo split faturaram R$ 4,7 bilhões em menos de seis meses.
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), o resultado do setor no primeiro semestre é recorde.
Mudanças climáticas
A alta produção e venda de condicionadores de ar chamam atenção e indicam preocupação com o aumento das temperaturas. A avaliação é do cientista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo, doutor em física atmosférica.
“Não há menor dúvida de que o aumento do número de vendas de ar-condicionado no Polo Industrial de Manaus está relacionado ao aumento global de temperatura e, particularmente, o aumento da incidência de eventos climáticos extremos como ondas de calor, como essa que estamos vendo por exemplo na Amazônia, no Sul do Brasil e assim por diante”, disse.
O pesquisador ressalta que há uma tendência de crescimento na produção desses equipamentos, o que deve impactar ainda significativamente o consumo de energia elétrica em todo o país.
“Isso aumenta a demanda de energia elétrica em todo o Brasil. Então o Brasil tem que se preparar para isso. Primeiro tem que, efetivamente, desenvolver aparelhos de ar-condicionado com a melhor eficiência possível, com a melhor tecnologia possível, e se preparar para o aumento da demanda de energia elétrica causada pelo aquecimento tanto regional, quanto pelas ondas de calor, quanto pelo aquecimento global”, frisou.
No início do mês, o serviço de monitoramento de mudanças climáticas da União Europeia revelou que o mês de junho foi o mais quente já registrado na história. Esse recorde vem sendo superado continuamente desde junho de 2023: treze meses consecutivos foram classificados como os mais quentes do planeta desde o início da série histórica.
Os dados mais recentes sugerem que 2024 poderá superar 2023 como o ano mais quente desde que os registros começaram, depois das alterações climáticas causadas pelo homem e do fenômeno climático natural El Niño terem empurrado as temperaturas para máximos recordes no ano até agora, disseram pesquisadores.
Recorde de calor
“Agora estimo que há uma probabilidade de aproximadamente 95% de que 2024 supere 2023 como o ano mais quente desde que os registros de temperatura da superfície global começaram, em meados de 1800”, disse Zeke Hausfather, cientista investigador da organização sem fins lucrativos Berkeley Earth.
Outro estudo realizado pela organização científica World Weather Atribution (WWA) afirma que as mudanças climáticas foram as principais causas para a seca histórica ocorrida nos rios da Bacia Amazônica em 2023, sendo que o fenômeno El Niño teria apenas agravado o problema da estiagem. O estudo aponta que as mudanças climáticas aumentaram em 30 vezes a chance de ocorrência de secas tão graves quanto a ocorrida no ano passado.
“O El Niño reduziu a quantidade de precipitação na região aproximadamente na mesma quantidade que as mudanças climáticas. No entanto, a forte tendência de estiagem foi quase inteiramente devido ao aumento das temperaturas globais, de modo que a severidade da seca que está sendo experimentada atualmente é em grande parte impulsionada pelas mudanças climáticas”, diz uma das conclusões, traduzida pelo portal Brasil de Fato.
Outros setores
Além do crescimento da produção de condicionadores de ar, o PIM apresentou nos primeiros meses deste ano alta na fabricação de motocicletas, motonetas e ciclomotos, com 794.037 unidades e aumento de 14,95%; televisores com tela LCD e OLED, com 5.858.435 unidades produzidas e aumento de 8,75%; e fornos micro-ondas, com 2.167.828 unidades produzidas e aumento de 48,11%.
*Fonte: Acrítica