Um relatório da Anistia Internacional divulgado nesta quinta-feira acusa Israel de cometer genocídio contra palestinos na guerra na Faixa de Gaza. É a primeira vez que a organização faz uma acusação do tipo durante um conflito armado ativo.
Após meses de análises de incidentes no território palestino e de declarações de autoridades de Tel Aviv, o grupo de direitos humanos com sede em Londres disse ter chegado à conclusão de que o limiar legal para o crime foi atingido.
A Convenção de Genocídio de 1948, promulgada após o assassinato em massa de judeus no Holocausto nazista, define genocídio como “atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.
“Mês após mês, Israel tem tratado os palestinos de Gaza como um grupo sub-humano, indigno de respeito pelos direitos humanos e pela dignidade, demonstrando sua intenção de destruí-los fisicamente”, afirmou a secretária-geral da organização, Agnès Callamard, em um comunicado. “Nossas conclusões impactantes devem servir para chamar a atenção da comunidade internacional: isto é um genocídio.”
Tel Aviv rejeita qualquer acusação do tipo, afirmando que respeita o direito internacional e tem o direito de se defender após o ataque terrorista do Hamas no sul de Israel em outubro do ano passado, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e mais de 250, sequestradas.
Reação
“O deplorável e fanático grupo Anistia Internacional mais uma vez produziu um relatório fabricado que é totalmente falso e baseado em mentiras”, escreveu na rede social X o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Oren Marmorstein.
Callamard se antecipou ao argumento em uma entrevista coletiva em Haia, na Holanda. “Sejamos claros: os objetivos militares podem coincidir com intenções genocidas”, disse ela. A conclusão, segundo ela, não foi tomada “levianamente, politicamente ou preferencialmente”. “Há um genocídio sendo cometido. Não há dúvida, nem uma dúvida em nossa mente após seis meses de pesquisa aprofundada e focada”, afirmou.
A secretária-geral disse ainda que a Anistia não estava tentando provar a ocorrência de um genocídio, mas, após revisar as evidências e declarações coletivamente, essa era a única conclusão possível. “A afirmação de que a guerra de Israel em Gaza visa apenas desmantelar o Hamas e não destruir fisicamente os palestinos como grupo nacional e étnico simplesmente não se sustenta sob escrutínio”, completou.
Durante a noite desta quinta, autoridades médicas relataram mais 39 mortes em Gaza —parte é de pessoas atingidas em um abrigo de famílias deslocadas. Nesse contexto, palestinos em luto disseram que os últimos ataques demonstram que a declaração da entidade chegou tarde demais.
*Fonte: Acrítica