Portal Castello Connection
Polícia

Facções criminosas já comandam um terço do Amazonas

Em toda a Amazônia Legal, 260 municípios têm a presença de alguma facção criminosa. Em 176 deles, há monopólio.

Foto: Daniel Brandão

O crime organizado, que já domina parte da Amazônia com rotas internacionais de  tráfico, agora também avança para lucrar com crimes ambientais e exploração ilegal de recursos naturais da região. É o que aponta o novo estudo ‘Cartografias da Violência na Amazônia’, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). No Amazonas, um terço dos municípios já é dominado por facções criminosas.

Como resultado deste cenário, em 2023 os estados da Amazônia Legal somaram taxas de violências 41,5% acima da média nacional, além de enfrentar recordes de queimadas e novos casos de conflitos de terra associados à exploração ilegal de terras.

O levantamento também aponta que as facções criminosas estão presentes em ao menos 260 municípios amazônicos, dos quais 176 têm monopólio de uma facção e 84 com a presença de dois ou mais grupos em disputa. No caso daqueles monopolizados, 130 são dominados pelo Comando Vermelho (CV), 28 pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e os demais por grupos menores.

Cenário estadual

No Amazonas, as facções criminosas dominam pelo menos 21 dos 62 municípios do estado. Outro fator representado em gráfico é que no estado há presença de dois ou mais grupos criminosos em algumas áreas. As principais do estado são o CV, Piratas do Solimões e PCC.

O Amazonas apresentou redução de 8,2% na taxa de mortes violentas intencionais entre 2022 e 2023, chegando à taxa média de 35,6 por 100 mil em 2023. Apesar deste resultado positivo no último ano, a análise por município mostra que a violência se distribui de forma bastante heterogênea no território. Considerando a taxa média de 2021 a 2023, os índices variam de 0 mortes em cidades como Nhamundá e Santa Isabel do Rio, à taxa acima de 100 por 100 mil, como é o caso de Iranduba, considerado o mais violento do estado.

Processo histórico

A taxa de violência letal na Amazônia se manteve em patamares muito elevados: com taxa de 32,3 mortes a cada 100 mil habitantes. O advogado e associado sênior do FBSP, Eduardo Pazinato, relaciona o número ao fator histórico das disputas das organizações criminosas por território.

“É um processo histórico que vem ganhando uma dimensão mais ampla na última década, mas que já é observado historicamente. Isso fez com que a taxa de homicídios, por exemplo, fosse bastante elevada na região, bem maior do que a média nacional. Mesmo com eventual redução no último ano, ela se mantém no patamar de taxa bastante acima da média nacional por conta dessa influência. É claro que há outros fatores regionais, estaduais, que também precisam ser verificados, como a interiorização da violência”, diz Pazinato.

Além do aumento da violência, o advogado ressalta que ao longo dos anos houve uma clara diversificação das atividades dos grupos criminosos para se aproveitarem das várias atividades econômicas da região,  que passaram a ser exploradas como uma “alavancagem de novos negócios”.

“Toda a influência das facções criminosas, por exemplo, na exploração do ouro, na extração de madeira e de atividades que em tese são legais, são exploradas pelas facções criminosas. Isso não só fez com que as organizações se mantivessem na região, como ampliassem seus domínios e, por consequência, a violência criminal gerada”, destaca Pazinato.

Para o pesquisador, esse crescimento também está relacionado aos locais de exploração dos mercados ilegais, que se encontram especificamente em cidades menores, onde há mais dificuldade de fiscalização e em áreas onde o poder público não chega.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para falar dos números apresentados, mas até o final da matéria não obteve retorno.

Geografia da Amazônia é fator relevante

Professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenador do projeto Governança Híbrida e Crime Organizado na Amazônia, Marcos Alan Ferreira explica que na Amazônia os fatores geográficos também apresentam contribuição para o agravo e manutenção do crime organizado. “Por isso acaba sendo tão importante a questão da cooperação internacional, que às vezes se fala muito pouco. Não se dá para combater esse fenômeno que avança, o crime organizado na Amazônia, se não avançarmos também as dimensões da cooperação internacional”, diz o professor.

O pesquisador relembrou que na cúpula da Amazônia foram debatidos esses contextos da cooperação internacional com Colômbia e Peru, que devem envolver trocas de informações, inteligência e sistemas de informação de indivíduos ligados ao crime. Mas ressaltou que é preciso ir além de forças policiais para combater a presença do crime organizado.

“Para o combate correto, o Estado também tem que pensar que lidar com segurança pública não é só segurança, traz a questão econômica, traz a questão social, justamente nas comunidades mais vulneráveis em que o crime organizado avança, seja essas comunidades vulneráveis na área rural ou na área urbana”, destaca.

*Fonte: Acrítica

Relacionados

Ex-funcionários desviam carros de concessionária e revendem em Manaus

Informações da Assessoria

Professor de jiu-jítsu é preso por crimes contra alunas em Novo Airão

Redação

PF desarticula esquema criminoso destinado à aquisição de merenda escolar em Manaus

Redação

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Entendemos que você está de acordo com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Leia mais