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Política

Manaus retrocede ao ter menos mulheres na CMM

Vereadoras eleitas atribuem cenário à falta de financiamento e insuficiência da cota de gênero, já alvo de fraude por partidos.

Foto: Daniel Brandão

Embora a participação feminina tenha crescido dois pontos percentuais no cenário nacional, com as mulheres representando 17,92% dos eleitos em 2024, Manaus não acompanhou os avanços. A capital do Amazonas não contou com nenhuma candidata mulher à prefeitura e saiu do total de quatro vereadoras para apenas três neste ano. O percentual nacional consta em levantamento produzido pela Consultoria-Geral da Câmara dos Deputados.

O número de vereadoras em Manaus se igualou a 1996, a última vez que a Casa teve um número tão baixo de parlamentares mulheres. Apenas Yomara Lins (Podemos), Thayssa Lippy (PRD) e Professora Jacqueline (União) conquistaram uma vaga na CMM, em 2024.
Parte deste cenário pode ser explicada pelo número de nomes na urna. Enquanto em 2020 o registro de candidaturas para o cargo de vereador chegou a 1.301 nomes, sendo 408 mulheres, na eleição do ano passado o número caiu para 833, com 264 mulheres.

Menos uma 

Apesar da expectativa de que os números de eleitas aumentassem ou ao menos se mantivessem, a população manauara não reelegeu a vereadora Glória Carratte (PSB) e nenhum outro novo nome feminino. As três vitoriosas citadas anteriormente já eram vereadoras da Casa.

O número de mulheres poderia ser ainda menor, caso a vereadora Professora Jacqueline não tivesse conquistado a vaga com uma diferença de 46 votos a mais do que o ex-presidente da Casa, Caio André (União), com quem disputou o cargo voto a voto.

A vereadora mais votada entre as mulheres e terceira no ranking geral, com 16.116 mil votos, Thayssa Lippy, afirmou que não poderia deixar de lamentar a saída de Glória Carrate, por ter ficado uma mulher a menos no parlamento.

Ela ressaltou que apesar da redução de mulheres na CMM, continuará trabalhando para representar outras mulheres. A parlamentar reafirmou seu compromisso com os direitos da pessoa com deficiência, das mulheres vítimas de violência, dos idosos e das crianças. “O nosso trabalho vai continuar e o compromisso com cada eleitor vai continuar, vou honrar cada voto”, disse à reportagem.

Políticas 

Já a vereadora Professora Jacqueline argumentou que os números mostram a necessidade de políticas públicas de suporte para a presença feminina na política.
“A gente é 50% do eleitorado e precisamos de mais políticas públicas voltadas para o público feminino. Por exemplo, mais vagas para a creche, mais vagas nas escolas para educação infantil, mais maternidade, mais leitos em hospitais que atendem especificamente mulheres. Até mais hospitais só para  mulheres e mais maternidade também, mais delegacias da mulher. Tudo isso reflete o não prestígio da representatividade”, comentou a professora.

Os apontamentos feitos pela parlamentar fazem parte de reivindicações básicas para que mulheres, especialmente aquelas com filhos, consigam exercer suas profissões e, inclusive, se dedicar à política.

A vereadora ressaltou que luta pelos direitos das mulheres e para ter voz, mas que o número ainda é insuficiente para elas serem ouvidas por um parlamento majoritariamente masculino.

“Eu, sozinha, falo muito da questão da  governança feminina, da questão das mulheres em espaços. Mas eu sou só eu, e tem mais duas que falam também. Mas a coisa é pouco a pouco, né? Quando você tem 3 contra 38, nossa voz simplesmente é abafada, é menos ouvida”, informou Jacqueline.

Três eleitas são ‘vitória coletiva’

Com 8.006 votos, a terceira vereadora eleita da CMM, foi Yomara Lins, que disputou seu segundo mandato. A vereadora afirmou que os dados negativos dos números de eleitas na CMM é um reflexo dos desafios enfrentados pelas mulheres.

“A redução da representatividade feminina na Câmara Municipal de Manaus é um reflexo das dificuldades que as mulheres ainda enfrentam para ocupar cargos de poder, mesmo em pleno 2025. Apenas três mulheres vereadoras foram eleitas, e isso evidencia a necessidade de políticas públicas que incentivem a participação feminina na política e de uma sociedade que valorize as lideranças femininas”, ressaltou.

A vereadora disse que apesar do baixo número, ter ao menos três mulheres na Casa é uma vitória coletiva, porque considera uma luta para atingir um cargo de poder. “Chegar até aqui, como mulher, é um desafio diário. Enfrentamos preconceitos, estereótipos e, muitas vezes, a desconfiança em relação à nossa capacidade”.

A vereadora afirmou que neste novo mandato, suas pautas prioritárias estarão voltadas para áreas de segurança pública, mobilidade urbana e políticas de proteção social, com especial atenção às mulheres, crianças e idosos, além de propor oportunidades para os jovens.

Renovação 100% masculina

Todas as vereadoras eleitas disputaram a reeleição, deixando a CMM sem nenhuma renovação feminina. Enquanto dos homens, 13 novos assumiram este ano. A socióloga Valéria Batista explicou que a difícil realidade vivenciada pelas vereadoras se deve a um processo histórico longo, que antes excluía essas mulheres da vida pública.

“A sub-representação feminina na política é um problema complexo com raízes históricas e sociais profundas, dentre as principais razões incluem, a questão de gênero, com o discurso que a mulher não foi feita para a política. O machismo a misoginia e a discriminação social, e também a rede de apoio não as favorece”, afirmou a socióloga.

Ela explicou que as dificuldades para as mulheres são causadas pela falta de financiamento de suas campanhas, por falta de igualdade na distribuição de recursos e pelos partidos serem, em sua maioria, comandados por homens.

“Os partidos são dominados pelos homens onde priorizam candidaturas masculinas.  A questão da porcentagem das cotas para as mulheres, são irrisórias de apenas 30% para concorrer nas eleições. Mas podemos destacar que também há o medo de que elas participem pela capacidade que elas têm de adentrar os espaços de poder, porque são altamente competentes e o grau de corrupção poderia nem existir”, destacou a socióloga.

Siglas gastam mais com homens

De acordo com levantamento feito pela Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) com base no Tribunal Superior Eleitoral, os gastos em campanhas de homens em 2024 foi 88% maior do que nas campanhas de mulheres. A Abradep afirma que o percentual evidencia que os 30% de recursos destinados às mulheres não estão sendo efetivos.

Outro ponto criticado pela vereadora Jacqueline é a postura dos partidos que fraudam cotas para beneficiar os homens. “Primeiro problema é o baixo investimento. E a gente está vendo também várias discussões no Brasil todo por colocarem mulheres como cota, né? A gente é uma cota e entra só para ser laranja. A gente não tem condição de competitividade, porque a gente não é estimulada a competir, a gente entra como cota”, afirmou.

A parlamentar defendeu, ainda, que a cota deveria ser de vagas destinadas às mulheres nas casas legislativas e não apenas de candidatura. “Por exemplo, o assento é 30% de cadeiras, então 30% de 41 vereadores, seria mais ou menos, 12 vagas. Digamos assim, eu faço uma opção aqui, e 12 vagas são para mulheres, se tivesse 12 mulheres, já seria uma grande diferença”.

A vereadora afirmou que após a disputa acirrada pelo cargo, manterá seu comprometimento em pautas que defende, como o direito das mulheres, das crianças e a educação de qualidade. Jacqueline também ressaltou que conquistou uma vaga na mesa diretora e que isso é uma forma de não deixar a direção ser totalmente masculina.

“Olha, a gente já conseguiu um espaço na mesa, eu já pedi pra ter pelo menos um espaço pra ficar na mesa, porque a gente, você pode ver também que a mesa diretora da Câmara praticamente era só homem. então eu digo, não, eu quero estar na mesa não por ser um espaço diferenciado, mas para estar representando”.

*Fonte: Acrítica

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