Uma cópia do Primeiro Fólio de William Shakespeare, roubada há 27 anos da Universidade de Durham, na Inglaterra, está de volta aos holofotes. A partir desta sexta-feira (4), o público poderá conferir o livro, avaliado em mais de US$ 1,3 milhão (cerca de R$ 7,4 milhões), em uma das bibliotecas da instituição.
O evento, que vai até o dia 2 de novembro, marca a primeira exibição pública da obra em mais de uma década e conta a emocionante trajetória de roubo, recuperação e restauração de um dos tesouros mais valiosos da literatura inglesa.
Publicado em 1623, o Primeiro Fólio é a primeira coletânea das peças de Shakespeare. Ela reúne 36 obras, como Macbeth, A Tempestade e Antônio e Cleópatra. Sem essa edição, 18 dessas peças poderiam ter sido perdidas para sempre.
Das cerca de 750 cópias originalmente impressas, apenas 235 sobreviveram ao tempo, o que faz dos exemplares restantes itens extremamente raros. O livro em questão foi adquirido na década de 1620 pelo bispo John Cosin e incorporado à biblioteca de Durham em 1669.
Roubo internacional e Fidel Castro
O Primeiro Fólio foi furtado de dentro de uma das bibliotecas da Universidade de Durham em 1998. A obra só reapareceu 10 anos depois, do outro lado do Atlântico: na Biblioteca Folger Shakespeare, em Washington DC, nos Estados Unidos.
As autoridades descobriram que ela foi levada para lá por Raymond Scott, um excêntrico negociante de antiguidades. Ele foi preso em 2010 e condenado a oito anos de prisão por tráfico de bens roubados, embora tenha sido absolvido da acusação de roubo.
No dia do julgamento, Scott chegou ao tribunal fantasiado de Fidel Castro, o revolucionário cubano, e alegou ao juiz ter encontrado o livro em Cuba. A história, no entanto, não convenceu, e os especialistas logo identificaram que se tratava do exemplar roubado de Durham, mesmo com a capa e algumas páginas faltando.
O britânico nunca confessou o crime e, em 2012, tirou a própria vida na prisão.
Restauração
A relíquia de Shakespeare chegou à Durham em condições preocupantes, segundo a instituição. “O vandalismo sofrido o deixou extremamente vulnerável”, disse em um comunicado na quinta (4) Stuart Hunt, diretor de biblioteca e coleções da universidade.
“Mas com isso surge uma oportunidade de examinar de perto um objeto icônico de novas maneiras”, ele acrescentou. “Por ter estado no centro de um roubo e recuperação internacional, o First Folio de Durham é realmente excepcional”.
Segundo um comunicado da universidade, a exposição destaca os esforços de restauração e os segredos revelados pelo estado do livro. A encadernação original, exposta pelos danos, oferece pistas sobre como os livros eram produzidos no século 17.
Avanços tecnológicos também permitiram a identificação de rabiscos centenários, enquanto réplicas feitas à mão mostram como o livro seria na década de 1600. Os visitantes poderão ver várias páginas, lado a lado, mergulhando na história de Shakespeare e da própria obra.
*Fonte: D24am