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26/02/2025
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Carla Castello Branco

A complexidade na educação brasileira

A transição para um novo paradigma é um processo que vai tomando força e sendo construído. Toda mudança gera turbulência, manifestações a favor ou repúdio. As novas ideias e concepções geram insegurança, medo e, principalmente, trabalho, sendo que nem todos estão dispostos e preparados para assumir uma nova visão e atuação em sala de aula. Trata-se de superar uma visão conservadora, sem negar seu valor no tempo histórico, mas buscar uma nova postura enquanto professor (a) com o intuito que os estudantes  aprendam para vida e não somente o suficiente para fazer a prova.

Para Behrens (2006), as abordagens baseadas no paradigma da complexidade enfatizam a produção do conhecimento, para o qual o processo educativo, segundo Cunha e Leite (1996, p. 120), “precisa enfocar o conhecimento como provisório e relativo, preocupando-se com a localização histórica de produção. Faz-se necessário estimular a análise, a capacidade de compor e recompor dados, informações, argumentos e ideias”, além de perceber o conhecimento de forma interdisciplinar, propondo pontes de relação entre eles e atribuindo  significados  próprios  aos  conteúdos,  em  conformidade  com  os  objetivos acadêmicos.

Para  tanto,  Behrens  (2005)  propõe  a  aliança  das  três  principais  abordagens  educacionais para buscar atender ao pensamento complexo, ou seja, o novo paradigma. Essas abordagens são: a sistêmica, a progressista e o ensino com pesquisa. Sobre essa possível relação das diferentes abordagens, a autora esclarece que a aliança ou a teia proposta nas três abordagens permite uma aproximação de pressupostos significativos, cada uma em sua dimensão.  Para Behrens uma  prática  pedagógica  competente  e  que  dê conta dos desafios da sociedade moderna exige uma inter-relação das seguintes abordagens.

Na  abordagem  sistêmica,  a  visão  é  integrada  e  proporciona  a  superação  da  visão fragmentada dos conhecimentos, relacionando o trabalho com o intelecto. O aluno é considerado um ser complexo, que vive em uma coletividade, mas  possui  características  particulares  e  talentos  únicos.

O desenvolvimento de suas potencialidades  caracteriza-se  de formas diferentes, a partir de um  educador (a) que  busca  caminhos  alternativos  em  um  aprendizado significativo e competente. Estimula os alunos em questões sociais e trabalha atividades que os desenvolvam e os façam ultrapassar obrigações de aprendizes a uma posição de indivíduos sociais. Para tanto, a avaliação tem como objetivo o processo de crescimento gradativo do estudante, respeitando as  múltiplas  inteligências,  limites  e  qualidades.

É uma  atividade  que motiva as etapas de pesquisa, o encontro de alternativas e o compartilhamento das diferentes problemáticas levantadas, na qual todos que estão inseridos constroem considerações. A metodologia da abordagem sistêmica é baseada na prática pedagógica crítica, reflexiva e transformadora, buscando autonomia e qualidade  no  processo  pedagógico.  Procura  o  equilíbrio  entre  teoria  e  prática, interconectando os conhecimentos e estimulando as relações pessoais e interpessoais. Segundo Capra (1996, p. 40-41), “embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes”.

Na  abordagem  progressista, é proposto o saber sistematizado, no qual aluno e professor estão conscientes da realidade e ambos são sujeitos do processo na construção do conhecimento. O professor é líder, articulador, autoridade  pela  competência  e  mediador. Problematiza  e  provoca  a análise do contexto, buscando o diálogo no processo.

A metodologia é dialógica, séria, exigente, rigorosa e privilegia a produção crítica do saber. Com ela, discutem-se  coletivamente  referenciais significativos, predominando o diálogo democrático. Esse processo resulta em um intercâmbio entre conhecimento e sujeito. A avaliação é para superação do estágio de senso comum.

A formação, realizada pela consciência crítica, é mútua, grupal e tem menos valor do que a aprendizagem. A abordagem progressista tem como principal característica possibilitar uma transformação social para o aluno, pois possui uma visão libertadora, crítica e  democrática.

Na abordagem de ensino com pesquisa, tem-se a articulação de professores e alunos para uma formação crítica e reflexiva, o uso de tecnologias e um ambiente inovador de elaboração de projetos conjuntos. Ela estimula o exercício  de  formação  ética  e  torna  a  pesquisa  um  instrumento  metodológico  para todos os níveis de ensino. O aluno é inserido no processo de ensino e aprendizagem, sendo questionador, investigador, criativo e autônomo. Tem capacidade produtiva estimulada. Tem a responsabilidade de ser ético e é capaz de exercer cidadania.

A avaliação é contínua, processual e participativa, acompanhando o desempenho diário de participação e de produção. O professor divide a responsabilidade da avaliação com o próprio aluno: avalia-se todo o processo de desenvolvimento com as atividades e o conteúdo proposto.

A metodologia é baseada no ensino por meio da pesquisa na prática pedagógica. Valoriza-se o pensamento divergente, propondo o conhecimento de forma  interdisciplinar,  construindo  pontes  de  relação  entre  os  conteúdos.

Considera-se a pesquisa como atividade fundamental ao ser humano, acessível a todos os níveis de ensino, de acordo com suas possibilidades. Ensinar  é  um  ato  criador,  um  ato  crítico  e  não mecânico.

 

Este texto foi baseado no artigo A Sala de Aula Invertida como Metodologia Convergente ao Paradigma da Complexidade dos autores Carla Castello Branco, Marilda Aparecida Behrens, Paulo Fernando Martins, Sirley Terezinha Filipa.

 

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