A transição para um novo paradigma é um processo que vai tomando força e sendo construído. Toda mudança gera turbulência, manifestações a favor ou repúdio. As novas ideias e concepções geram insegurança, medo e, principalmente, trabalho, sendo que nem todos estão dispostos e preparados para assumir uma nova visão e atuação em sala de aula. Trata-se de superar uma visão conservadora, sem negar seu valor no tempo histórico, mas buscar uma nova postura enquanto professor (a) com o intuito que os estudantes aprendam para vida e não somente o suficiente para fazer a prova.
Para Behrens (2006), as abordagens baseadas no paradigma da complexidade enfatizam a produção do conhecimento, para o qual o processo educativo, segundo Cunha e Leite (1996, p. 120), “precisa enfocar o conhecimento como provisório e relativo, preocupando-se com a localização histórica de produção. Faz-se necessário estimular a análise, a capacidade de compor e recompor dados, informações, argumentos e ideias”, além de perceber o conhecimento de forma interdisciplinar, propondo pontes de relação entre eles e atribuindo significados próprios aos conteúdos, em conformidade com os objetivos acadêmicos.
Para tanto, Behrens (2005) propõe a aliança das três principais abordagens educacionais para buscar atender ao pensamento complexo, ou seja, o novo paradigma. Essas abordagens são: a sistêmica, a progressista e o ensino com pesquisa. Sobre essa possível relação das diferentes abordagens, a autora esclarece que a aliança ou a teia proposta nas três abordagens permite uma aproximação de pressupostos significativos, cada uma em sua dimensão. Para Behrens uma prática pedagógica competente e que dê conta dos desafios da sociedade moderna exige uma inter-relação das seguintes abordagens.
Na abordagem sistêmica, a visão é integrada e proporciona a superação da visão fragmentada dos conhecimentos, relacionando o trabalho com o intelecto. O aluno é considerado um ser complexo, que vive em uma coletividade, mas possui características particulares e talentos únicos.
O desenvolvimento de suas potencialidades caracteriza-se de formas diferentes, a partir de um educador (a) que busca caminhos alternativos em um aprendizado significativo e competente. Estimula os alunos em questões sociais e trabalha atividades que os desenvolvam e os façam ultrapassar obrigações de aprendizes a uma posição de indivíduos sociais. Para tanto, a avaliação tem como objetivo o processo de crescimento gradativo do estudante, respeitando as múltiplas inteligências, limites e qualidades.
É uma atividade que motiva as etapas de pesquisa, o encontro de alternativas e o compartilhamento das diferentes problemáticas levantadas, na qual todos que estão inseridos constroem considerações. A metodologia da abordagem sistêmica é baseada na prática pedagógica crítica, reflexiva e transformadora, buscando autonomia e qualidade no processo pedagógico. Procura o equilíbrio entre teoria e prática, interconectando os conhecimentos e estimulando as relações pessoais e interpessoais. Segundo Capra (1996, p. 40-41), “embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes”.
Na abordagem progressista, é proposto o saber sistematizado, no qual aluno e professor estão conscientes da realidade e ambos são sujeitos do processo na construção do conhecimento. O professor é líder, articulador, autoridade pela competência e mediador. Problematiza e provoca a análise do contexto, buscando o diálogo no processo.
A metodologia é dialógica, séria, exigente, rigorosa e privilegia a produção crítica do saber. Com ela, discutem-se coletivamente referenciais significativos, predominando o diálogo democrático. Esse processo resulta em um intercâmbio entre conhecimento e sujeito. A avaliação é para superação do estágio de senso comum.
A formação, realizada pela consciência crítica, é mútua, grupal e tem menos valor do que a aprendizagem. A abordagem progressista tem como principal característica possibilitar uma transformação social para o aluno, pois possui uma visão libertadora, crítica e democrática.
Na abordagem de ensino com pesquisa, tem-se a articulação de professores e alunos para uma formação crítica e reflexiva, o uso de tecnologias e um ambiente inovador de elaboração de projetos conjuntos. Ela estimula o exercício de formação ética e torna a pesquisa um instrumento metodológico para todos os níveis de ensino. O aluno é inserido no processo de ensino e aprendizagem, sendo questionador, investigador, criativo e autônomo. Tem capacidade produtiva estimulada. Tem a responsabilidade de ser ético e é capaz de exercer cidadania.
A avaliação é contínua, processual e participativa, acompanhando o desempenho diário de participação e de produção. O professor divide a responsabilidade da avaliação com o próprio aluno: avalia-se todo o processo de desenvolvimento com as atividades e o conteúdo proposto.
A metodologia é baseada no ensino por meio da pesquisa na prática pedagógica. Valoriza-se o pensamento divergente, propondo o conhecimento de forma interdisciplinar, construindo pontes de relação entre os conteúdos.
Considera-se a pesquisa como atividade fundamental ao ser humano, acessível a todos os níveis de ensino, de acordo com suas possibilidades. Ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico.
Este texto foi baseado no artigo A Sala de Aula Invertida como Metodologia Convergente ao Paradigma da Complexidade dos autores Carla Castello Branco, Marilda Aparecida Behrens, Paulo Fernando Martins, Sirley Terezinha Filipa.