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26/02/2025
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Educação

Amazonas tem o primeiro curso especializado em gestão de conflitos e cultura da paz

Professor Thiago Rosas leva experiência como defensor público para a sala de aula e para as plataformas digitais para ensinar como transformar litígio em uma solução em que todos ganham.

Foto: Nilton Ricardo/Freelancer

O Amazonas ganhou, em 2024, uma nova instituição de ensino. O Instituto Arandu, primeira escola de Formação em Gestão de Conflitos, nasceu em maio desse ano com o objetivo de disseminar a cultura da paz como uma nova disciplina. O primeiro curso de Gestão de Conflitos aconteceu nos dias 24 e 25 de agosto no hotel Mercury, reunindo advogados, servidores públicos, lideranças comunitárias e estagiários de direito.  Uma nova turma presencial está sendo formada para os dias 9 e 10 de novembro próximos e o curso on line entre os dias 04 e 05 de dezembro. “Nosso objetivo é impactar a sociedade transformando profissionais em agentes de paz, do diálogo e da resolução de conflitos”, afirma o professor Thiago Nobre Rosas, mentor do curso. O conteúdo alia teoria e prática, embasadas na expertise acadêmica de Rosas, que é mestre em Direito e Gestão de Conflitos pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), com MBA em Gestão de Projetos e Processos de onde acumula uma base sólida e atualizada sobre as melhores práticas e teorias na área. Thiago Rosas também é defensor público e coordena o Núcleo de Moradia e Fundiário (Numaf) da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM).

Nessa entrevista, ele fala sobre os conceitos de gestão de conflitos e sobre o novo curso, que, conforme explica, busca fomentar melhorias na sociedade através da formação de lideranças comprometidas com a harmonia, o entendimento e a paz social.

O que é o Instituto Arandu e qual a proposta institucional?

R: O Arandu é um Instituto de Formação em Gestão de Conflitos, criado em maio de 2024. Nossa missão é disseminar a cultura da paz em contraponto à cultura do litígio, contribuindo com a formação de um exército de mediadores, conciliadores e negociadores que possam atuar em suas áreas como agentes dessa cultura. Para isso, criamos o curso, inédito no estado, de Gestão de Conflitos,  nosso primeiro produto na forma de mentorias presenciais, mas também lançaremos o curso na plataforma digital zoom. Ambos os cursos oferecem um método comprovado para quem deseja se tornar um especialista em gestão de conflitos e transformar desafios em oportunidades com eficácia.

Qual o público alvo do Curso de Gestão de Conflitos?

R: Para todos os públicos, considerando que o conflito faz parte da nossa rotina, está em casa, no trabalho, na escola e, também, faz parte da democracia, portanto não se trata de algo necessariamente ruim. A forma de lidar com o conflito é que vai trazer um desfecho bom ou ruim. Temos um leque muito grande de profissionais que se identificam com o curso: advogados e operadores do direito, psicólogos, assistentes sociais, professores, gestores, administradores, pessoal da saúde e servidores públicos de um modo geral. Qualquer pessoa que está na função de liderança ou trabalhe com o público precisa conhecer sobre gestão de conflitos. As escolas, as empresas do Polo Industrial de Manaus, governos, prefeituras, todos podem aprimorar seus conceitos de gerir conflitos. Nosso objetivo é impactar a sociedade transformando profissionais em agentes de paz, do diálogo e da resolução de conflitos. Juntos, podemos fazer melhorias na sociedade através da formação de líderes comprometidos com a harmonia social e o entendimento. Em outras palavras, formar um exército de mulheres e homens dedicados ao diálogo, ao convencimento, à tolerância, à empatia e à afirmação da vontade de todos aqueles que estão em conflito.

Ser um especialista em Gestão de conflitos também pode ser uma profissão, não é? Onde e como um profissional com essas habilidades pode atuar?

R: Um profissional qualificado em gestão de conflitos pode atuar em todas as áreas, sejam elas exatas, humanas ou da saúde. Onde houver pessoas, pode-se aplicar a gestão de conflitos. Existem profisisonais dedicados à gestão de conflitos, conhecidos como mediadores profissionais, que podem ser contratados para gerir determinado conflito e ser remunerado por isso.

De que forma sua experiência profissional, como defensor público,  lhe ajudou a criar o instituto Arandu?

R: O instituto Arandu nasceu de uma dor pessoal que me incomoda nesses anos de profissão, que é a cultura do litígio. Ver os conflitos sendo apresentados e não conseguir ser efetivo diante de um quadro de crise do direito e do sistema judiciário sempre me incomodou. Por isso, fui buscar me especializar e hoje posso dizer que temos obtido sucesso nas causas em que atuamos com mediação e conciliação, com bons resultados. Nesse contexto de busca, nasce o Instituto de Gestão de Conflito Arandu como uma resposta a uma necessidade de formação de conhecimento das técnicas de gestão de conflito, principalmente as autocompositivas: mediação, conciliação, negociação e construção de consenso.

Como o senhor diferencia a cultura da paz da cultura do litígio?

R: A Cultura do litígio prevalece a relação ganha – perde. Sempre alguém vai perder. O exemplo mais claro é um processo judicial, onde a sentença declara, condena ou constitui um direito em favor de alguém em detrimento da outra parte, que sai perdedora. Na cultura da paz a relação é ganha – ganha. Como a solução é construída diretamente pelos envolvidos no conflito, ambos serão contemplados em seus interesses, e, portanto, sairão ganhando.

Como mudar o desfecho dos conflitos para sair das soluções perde-ganha, comuns na judicialização,  para o ganha-ganha proposto na gestão de conflitos?

R:  A primeira coisa é entender que a justiça precisa ser ajudada no tratamento dos conflitos. Não há como entender adequado que o Judiciário julgue 100% dos conflitos na sociedade brasileira. A segunda coisa é fomentar a autocomposição nos órgãos públicos e privados, para que o conflito seja tratado na sua origem e pacificado sem a necessidade de processo judicial. E o terceiro, é a qualificação da sociedade como um todo em gestão de conflitos. Quanto mais pessoas souberem gerir conflitos, mais resoluções teremos, mais efetividade de direitos teremos e, por consequência, uma sociedade mais colaborativa.

Pode-se dizer que a gestão de conflitos é uma alternativa à judicialização?

R: Exatamente. Vivemos em tempos de grande conflito e relações pessoais complexas, muitas vezes agravadas pela intolerância. A solução tradicional dos tribunais nem sempre é a melhor para garantir os direitos essenciais, especialmente em questões que envolvem políticas públicas complexas. Nem todos os conflitos precisam de uma sentença judicial. Há uma tendência global em buscar alternativas que superem as dificuldades de acesso aos canais formais de resolução de conflitos. A cultura da judicialização está se tornando obsoleta, com a busca por novas formas de resolver disputas que evitem processos longos e desgastantes. Precisamos de soluções flexíveis que permitam a construção conjunta entre as partes envolvidas. No Brasil, a judicialização muitas vezes não é eficaz para garantir direitos fundamentais. Um exemplo claro é a situação de Manaus, onde a favelização e a precarização dos direitos mostram que sentenças judiciais, por si só, não promovem transformação social. A verdadeira mudança que desejamos é cultural: deixar para trás a cultura do litígio e adotar a cultura da paz e do consenso. Nesse novo paradigma, as partes escolhem como resolver seus conflitos, ganhando em relacionamento, tempo e dinheiro.

Porque é importante administrar conflitos na sociedade atual?

R: A ciência da gestão de conflitos nasceu para dirimir, solucionar e pacificar os conflitos de forma civilizada, sem a necessidade de qualquer tipo de violência e sem a necessidade de procurar as vias judiciais. O conflito acontece quando existe um choque de interesses, um choque de vontades entre duas pessoas ou dois grupos de pessoas, de países, instituições, entre pessoas que convivem no mesmo ambiente. Quando os interesses são contrapostos, quando uma pessoa deseja o mesmo que a outra é quando inicia a primeira fase do conflito. O conflito mal gerido pode chegar até a violência física. A meta principal da gestão de conflitos é fazer com que dois envolvidos estabeleçam uma forma de resolver a sua disputa e cheguem ao final desse estabelecimento de dialogo numa solução possível e, diante dessa possibilidade, os vínculos, as relações sejam mantidas. A vantagem de se administrar, de forma eficaz, qualquer tipo de conflito é que, ao final dessa gestão, as partes que estão instigando podem, possivelmente, conseguir manter uma boa relação posteriormente. De um conflito bem administrado podem surgir boas oportunidades. Por outro lado, os conflitos quando não administrados podem resultar em violência, em morte, em lesão corporal, em crimes, em guerras.

Como acontece na prática a gestão de conflitos?

R: A forma mais comum é pela autocomposição, que são técnicas de gestão de conflitos. Nela, prevalece a vontade das partes. Elas vão ser as protagonistas da resolução do seu conflito. Em outras palavras, elas é que vão resolver a demanda que se apresenta entre as duas naquele presente momento. Em várias das técnicas da autocomposição um terceiro neutro, imparcial, está presente. A missão dele é fomentar e encontrar pontos de convergência entre as partes, de se colocar no lugar do outro e perceber que os interesses da outra parte possivelmente não são tão antagônicos. Esse terceiro não toma decisão nenhuma, ele acompanha, incentiva, comenta, colabora, mas nunca decide pelas partes. Na autocomposição, nós temos quatro técnicas: a conciliação, a mediação, a negociação e a construção de consenso.

Como participar do curso de gestão de conflitos do Instituto Arandu?

R: A pessoa interessada pode nos acompanhar nas redes sociais para informações e inscrições no curso de Gestão de Conflitos. @institutoarandu.am. Também pode nos contatar pelo WhatsApp (92) 98165 6259. Nosso e-mail comercial é institutoarandu.am@gmail.com.

Que mensagem o senhor deixaria para os seus futuros alunos?

R: Vamos juntos construir uma sociedade baseada no diálogo e na compreensão, uma sociedade onde as pessoas possam ser ouvidas e participem das decisões sobre suas questões. Vamos construir soluções ganha-ganha e não apenas a do ganha-perde.

*Fonte: Acrítica

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