Nem toda dor no peito é sinal de problema cardíaco. Pesquisas recentes indicam que uma parcela significativa dos casos atendidos em pronto-socorro está relacionada à ansiedade e a outras condições psicológicas tratáveis.
Um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado na revista Academic Emergency Medicine analisou 375 pacientes com dor torácica de baixo risco e descobriu que 42% apresentavam ansiedade grave. Muitos também tinham depressão, transtorno do pânico, estresse pós-traumático e dificuldades funcionais que impactam trabalho, vida social e cuidados com a família.
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Segundo os autores, identificar e tratar esses distúrbios permite criar estratégias de acompanhamento mais direcionadas, reduzindo visitas desnecessárias ao pronto-socorro.
A cardiologista Juliana Soares, do Einstein Hospital Israelita, explica que até um terço dos pacientes que chegam com dor torácica de baixo risco apresentam ansiedade associada. “A ansiedade é uma das principais causas de dor torácica de origem não cardíaca e, muitas vezes, o diagnóstico mais frequente após a exclusão de problemas cardíacos”, afirma.
Crises de ansiedade liberam adrenalina e cortisona, provocando taquicardia, dor no peito, espasmos musculares e falta de ar. “A ansiedade gera sintomas físicos reais e intensos, que podem simular um quadro cardíaco”, acrescenta Soares.
Apesar da alta prevalência, a identificação de ansiedade em emergências ainda é limitada. “Ferramentas específicas são pouco utilizadas nas salas de pronto-atendimento. O primeiro passo sempre é descartar condições cardíacas graves por meio de exames clínicos e laboratoriais”, ressalta a médica.
Alguns sinais ajudam a diferenciar as dores: problemas cardíacos costumam causar dor em aperto ou pressão, concentrada atrás do osso do peito, geralmente desencadeada por esforço físico ou estresse. Já a dor relacionada à ansiedade tende a ser difusa, em pontada, localizada no meio do peito e sem um fator desencadeante definido.
O estudo também mostrou que muitos pacientes não têm apenas episódios isolados. Dois terços relataram dores semanais ou diárias, o que reforça a necessidade de acompanhamento contínuo.
O tratamento envolve avaliação ambulatorial, acompanhamento psicológico e, quando indicado, o uso de ansiolíticos ou antidepressivos. “É fundamental encaminhar o paciente ainda na emergência para um profissional habilitado, garantindo avaliação holística. Isso ajuda a reduzir a recorrência da dor e melhora a qualidade de vida”, conclui Soares.

