25.3 C
Manaus
26/02/2025
Portal Castello Connection
ArticulistasMarcos De Bona

Golpe de Sorte em Paris: A sorte, a ironia e o acaso em mais um bom filme de Woody Allen

Foto: Reprodução

Coup de Chance
Romance / Comédia / Suspense

Roteiro e direção: Woody Allen
Com Lou de Laâge, Valérie Lemercier, Melvil Poupaud, Niels Schneider.
França/EUA, 2024
(estreou nos cinemas em 09/2024)

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=pC3gkraSU_Y

*Esse texto não contém spoiler. Para análise completa com spoilers, assista ao vídeo acima.

Uma jovem parisiense casada com um idiota parisiense reencontra um colega de faculdade. Inevitavelmente eles começam um affair parisiense. Mas o idiota é um cara perigoso.

Levando-se em conta toda a filmografia de Woody Allen, Coup de Chance, seu primeiro filme em outra língua que não o inglês (o filme é todo falado em francês), pode ser considerado obra mediana. O que significa ser um filme muito bom, e que vale a pena ser visto.

O longa trata de forma muito eficiente os temas da sorte, do acaso e da ironia. Uma fotografia muito eficaz, pinta o apartamento de Fanny (Laâge) e Jean (Poupaud) com cores frias. Reservando os tons quentes e alaranjados, para o apartamento de Alain (Schneider), onde acontecem os encontros amorosos. O local também é mostrado por uma lente grande angular, ampliando e distorcendo levemente o ambiente onde a protagonista descobre novas sensações.

PRIMEIRO ATO

O roteiro começa um tanto esquemático. Woody Allen apresenta os personagens e suas relações uma maneira muito simples, que até uma criança consegue entender. Fanny, a protagonista reencontra Alain, um antigo colega de faculdade que era apaixonado por ela. Ambos começam a sair para almoçar juntos pelos parques de Paris.

Porém, Fanny é casada com Jean. Que, apesar de marido, é seu antagonista. Ele a trata como um bibelô, na primeira cena do casal, Jean da um anel muito caro para a esposa e exige que ela vá para uma festa com a joia. Ela vai, mesmo achano o adereço um tanto excessivo. Já percebemos como funciona a relação entre Fanny e Jean, mas Woody Allen faz questão de verbalizar essa situação com ela dizendo para o marido “As vezes acho que você me considera uma esposa troféu.”

Também é fácil entender que Fanny é muito mais parecida com Alain do que com Jean, que a obriga a passar fins de semana tediosos enquanto caça com os amigos.

Lembrando que os temas centrais do filme são o acaso e a ironia, a ironia vai aparecer no clímax, e o acaso já apareceu quando o casal se reencontra. O que vai provocar o…

INCIDENTE INCITANTE

Depois tanto almoçarem em parques, Fanny e Alain vão almoçar no apartamento de Alain se tornam amantes. E chegamos ao auge do caráter romântico do filme.

Fica tudo muito claro. No primeiro ato eles são amigos e no segundo, passarão a ser amantes. E a pergunta que fica do Incidente Incitante é se Fanny vai deixar Jean para ficar com Alain.

O primeiro ato ainda apresenta duas informações importantes. Camille (Lemercier), mãe de Fanny, por gostar muito de Jean, as vezes funciona como antagonista. Mas, principalmente no terceiro ato, será uma importante aliada.

Por fim, amigos do casal comentam sobre um rumor de que Jean teria mandado matar um antigo sócio para obter benefícios financeiros. Fosse apenas um rumor, o roteiro não teria dado tanta importância.

SEGUNDO ATO

Temos um triângulo amoroso muito básico, que naturalmente provoca um conflito interno em Fanny e ela pensa em terminar o casamento.

E nesse momento temos um ótimo plot twist, uma reviravolta no roteiro. Nossa expectativa é quebrada e o filme toma um novo rumo, mudando inclusive o seu gênero, com o suspense cada vez mais dominando a trama.

Dessa vez, Woody Allen guardou o melhor para a segunda parte do filme, que retoma uma inspiração frequente em sua carreira: Crime e Castigo, de Dostoiévski. E, mais uma vez, o diretor e roteirista revela sua genialidade em um clímax surpreendentemente irônico. Pena que pode ter sido o último filme da brilhante carreira de Woody Allen.

Relacionados

O BRUTALISTA – A liberdade de cabeça para baixo. A falácia do sonho americano

Marcos De Bona

SING SING – Colman Domingo brilha ao lado de elenco inusitado

Marcos De Bona

EMILIA PÉREZ – Um roteiro fraco e uma visão europeia e preconceituosa da América Latina

Marcos De Bona

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Entendemos que você está de acordo com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Leia mais