Em 2022 foi lançado o filme M3gan, sobre uma boneca robô comandada por I.A. que se volta contra os humanos. Apesar de eu achar um filme fraquíssimo, o sucesso foi suficiente para a produção dessa continuação. Ambos os filmes foram dirigidos por Gerard Johnstone e roteirizados por Akela Cooper. Mas na continuação, Johnstone também contribuiu no roteiro, o que parece ter feito a diferença.
Quando o filme começou, fiquei desconfiado de que estava na sala errada do cinema. O filme introduz o que parece ser um bunquer em um país em guerra, ocupado por soldados. Quando eu estava seriamente pensando em sair para verificar se estava assistindo o filme certo, aparece uma menina robô que ataca os soldados.
Esse é o começo surpreendente de M3gan 2.0. Porém aquela não era M3gan, era Amelia, vivida por Ivanna Sakhno, outra menina robô criada nos mesmos moldes de sua antecessora.
O roteiro surpreende e acerta ao ir por um caminho diferente do primeiro filme. Que se limitou a fazer uma discussão vazia sobre inteligência artificial e a tentativa frustrada de criar um clima sinistro, se levando a sério demais.
Agora não temos um filme que se limita ao terror. Há uma combinação de gêneros que mistura espionagem, ação e um pouco de comédia. O clima sinistro é mais bem criado, M3gan, outra vez vivida por Amie Donald, está mais solta em cena, adquirindo o carisma que faltou anteriormente. Allison Williams, como Gemma, criadora de M3gan, permanece com sua atuação pouco brilhante, mas sua sobrinha Cady, interpretada por Violet McGraw, adquire novas camadas, saindo da apatia/euforia/raiva do primeiro filme, aqui a personagem se mostra mais viva, madura e útil à trama.
Amelia, que vimos na primeira cena, havia sido adquirida pelo exército americano para funcionar como um soldado perfeito, imbatível e descartável. Porém, da mesma forma que M3gan no primeiro filme, ela demonstra outras intenções, se tornando uma ameaça.
Para combater Amelia, o exército recorre a Allison, que à princípio se recusa. Mas a consciência de M3gan, que os personagens pensavam que havia morrido no fim do primeiro filme, volta a dar as caras e convence sua criadora a receber sua ajuda para combater a robô rival.
O filme estabelece um ritmo ágil, conseguindo dar mais importância a personagens secundários como os sócios e o namorado de Gemma. A trama pode ter seus defeitos, como nas relações complicadas e excesso de informação típicos de filmes de espionagem.
Mas no geral, o filme agrada por não se levar tão a sério. A discussão sobre inteligência artificial está presente no primeiro ato. Mas depois passamos à ação, aos planos traçados, às missões a serem cumpridas. E o filme consegue tirar entretenimento das lutas entre robôs e humanos. O roteiro apresenta boas reviravoltas. E quando parece que vai cair na pieguice, consegue tirar sarro de si mesmo e criar sua cena mais engraçada. Ainda que a pieguice volte sutilmente no final.
Se o primeiro filme, apesar de fraco, justificou uma continuação, os produtores foram bem sucedidos ao ampliar o alcance da trama explorando novos gêneros e concebendo um bom filme. Menos engessado, mais despretensioso e mais divertido.