Em março deste ano, o motoboy Marco Antônio Mariano, 32, voltava para casa depois de um longo dia de expediente, quando passou em um cruzamento no bairro Planalto, Zona Centro-Oeste. Ele aguardou o semáforo indicar a passagem e adentrou a via. Porém, um carro ignorou o sinal vermelho e, em alta velocidade, colidiu contra o motociclista.
Foram dois meses de internação e múltiplas fraturas espalhadas pelo corpo. Nas fotos no hospital, as hastes de ferro na perna esquerda mostram a gravidade do acidente. Agora, para se locomover enquanto se recupera, Marco precisa do auxílio da cadeira de rodas ou de muletas. Mesmo após a liberação médica, ele está ciente de que precisará usar prótese para compensar a perda óssea da tíbia e a fíbia. As marcas da colisão, no entanto, vão além das cicatrizes espalhadas pelo corpo.
Sequelas
“Eu me isolei de amigos e da família. Ainda estou tratando a depressão depois do acidente com uma psicóloga. Ela disse que eu tive um trauma por conta da ‘batida’. À noite eu ainda acordo assustado quando penso no som do carro freando”, conta o motoboy que desde o acidente perdeu cerca de 20 quilos por conta dos problemas psicológicos.
Marco Antônio é um dos pacientes registrados pelo Hospital-Pronto Socorro 28 de Agosto. Os números retratam o tamanho do problema. Nos primeiros seis meses do ano, 1.723 pessoas vítimas de acidentes de trânsito com motocicletas deram entrada na unidade hospitalar. Destas, 57 pessoas precisaram de internação.
O Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) também demonstra preocupação com a quantidade de acidentes fatais com motocicletas. De janeiro ao dia 25 de julho de 2023, 64 pessoas morreram em sinistros envolvendo esse tipo de veículo, número 25% maior do que no mesmo período do ano anterior, quando 48 pessoas tinham perdido a vida.
Impunidade
A imprudência e a impunidade são, para o motoboy, uma das principais causas dos acidentes. No caso dele, o motorista do carro que o acidentou além de estar em alta velocidade, tinha consumido bebida alcoólica. Ele agora tenta na justiça garantir uma indenização. Por enquanto, Marco recebeu apenas o seguro DPVAT e aguarda perícia do INSS.
“Falta conscientização de ambas as partes. Não adianta culpar o motorista ou o motociclista, é preciso ter respeito entre os dois lados. Às vezes você vê certa sinalização, não respeita, ignora o ‘pare’, o sinal vermelho, dirige com o celular, embriagado e falta punição, porque as leis são muito brandas. Uma pessoa que cometeu um acidente, na maioria das vezes, é proposital. Se vocês está em alta velocidade, não é um acidente.
Não foi sem querer, vocês quis causar isso”, ressaltou o motoboy que tem mais de 12 anos de experiência no ramo.
Imprudência
Assim como foi observado por Marco, na maioria desses acidentes, segundo o gerente da controladoria de trânsito do Departamento de Trânsito do Amazonas (Detran-AM), Wendell Dantas Marques, a imprudência é a principal vilã do trânsito. Segundo ele, embora a habilitação na categoria A deixe a pessoa apta a conduzir uma motocicleta, é preciso que o próprio motociclista e a sociedade tenha responsabilidade para um trêfego mais seguro.
Aperfeiçoamento
Além disso, ele lembra que o próprio Detran-AM oferta cursos de aperfeiçoamento para condutores, alguns de forma gratuita. Wendell reforça a necessidade de uso dos equipamentos de segurança como o capacete para quem conduz e para o carona, a atenção ao limite de passageiros de duas pessoas, manobras perigosas, respeito ao limite de velocidade e não uso do corredor pelos motociclistas quando os demais veículos estiverem em movimento.
“Não podemos dizer que o motociclista é o vilão no trânsito. Ele faz parte do trânsito como todos nós. Nós estamos no trânsito diariamente, então essa responsabilidade no trânsito é compartilhada entre os órgãos de trânsito, pedestres, condutores, motociclistas. Porém, o motociclista precisa ter consciência de que ele é uma parte frágil no trânsito. A partir do momento que nós, motociclistas, utilizarmos de maneira defensiva a nossa motocicleta esse número alarmante vai diminuir”, assegura o gerente.
*ACrítica