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16/06/2025
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PANC: o que você considera mato pode ajudar no combate à fome

Estudos revelam que os benefícios das PANCs são muitos

Sítio, no Vale do Ribeira, SP (Foto: Marilua Feitoza)

PANC é a sigla para Planta Alimentícia Não Convencional, elas são plantas com potencial alimentício e fáceis de serem encontradas porque possuem um desenvolvimento espontâneo, ou seja, nascem sem cultivo ou terra especial, e estão mais próximas de nós do que imaginamos. A jornalista Marilua Feitoza, saiu da redação para se dedicar a estudar e cultivar suas próprias plantas visando os cuidados da saúde da família e das pessoas em vulnerabilidade alimentar.

Há cerca de quinze anos, Marilua foi morar em Curitiba, em uma casa com jardim, e como curiosa que é, a resolveu estudar jardinagem para melhor entender e cultivar as plantas que já existiam no lugar, ela queria transformar o jardim que não era tão bom em algo bonito e agradável.

Marilua, gostou tanto que resolveu estudar além da jardinagem, as plantas alimentícias não convencionais e as plantas medicinais. O que hoje virou tema de dissertação do Mestrado. Ela pensou de que forma as PANCs poderiam ajudar na diminuição da insegurança alimentar e nutricional de grupos de alta vulnerabilidade social. Hoje, Marilua pesquisa e escreve sobre PANCs e plantas medicinais.

PANC, Almeirão-roxo (Foto: Marilua Feitoza)

“Eu comecei a fazer alguns cursos de horticultura, de jardinagem orgânica, de horta e fiz uma especialização em Paisagismo Regenerativo. Foram nove módulos que transformaram a minha vida, a minha visão do mundo. Eu enveredei para o mundo das plantas, profissionalmente falando, então comecei lentamente a transição de carreira há mais ou menos quatorze anos, eu senti que precisava fazer alguns cursos formais para ter embasamento profissional porque eu sou jornalista, mas estava decidida a trabalhar com as plantas”

PANC Dente-de-leão (Foto: Marilua Feitoza)

A mestranda diz que escolheu estudar sobre as PANCs porque além do conhecimento, precisava popularizar o estudo, levar até a comunidade, especialmente as que passam fome. Era a hora de ir a campo.

“Eu verifico se essas pessoas, essas famílias, que estão classificadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo IPVS – Índice Paulista de Vulnerabilidade Social, como de alta vulnerabilidade social, se elas consomem essas PANCs, se tem nos seus quintais. Essa é a minha pesquisa.”

Marilua Feitoza (Foto: Divulgação)

Segundo Marilua, as plantas alimentícias não convencionais são plantas com alto potencial de mitigar a insegurança alimentar e nutricional sobretudo desses grupos que passam fome. As PANCs têm grande potencial de ajudar a minimizar a fome.

Estudos revelam que os benefícios das PANCs são muitos, elas possuem teores de minerais, fibras, antioxidantes e proteínas significativamente maiores quando comparados com plantas domesticadas. E podem até ser confundidas com ervas daninhas, pois algumas brotam inclusive em calçadas.

“Tem grande potencial alimentício, com propriedades nutricionais e medicinais e as pessoas não enxergam como alimento, e nascem ali, no quintal de casa. As pessoas até reconhecem as plantas, mas geralmente, não as consideram como alimento e sim como mato ou erva daninha”.

As PANCs já são tema de aulas em curso de gastronomia e também são usadas em pratos especiais servidos em restaurantes. Mas o que a pesquisadora busca, é levar esse consumo para as pessoas em vulnerabilidade alimentar e quem sabe diminuir esse índice de insegurança alimentar.

“São poucas as espécies de verduras e legumes produzidos pela agricultura convencional. As PANC surgem, portanto, como uma opção real de diversificar a alimentação das populações de baixa renda. Hoje no Brasil, milhões de pessoas estão passando por algum tipo de insegurança alimentar, que é dividida em três classes: leve, moderada e grave. Quem se encontra em insegurança alimentar grave é quem realmente está passando fome, quem não tem realmente o que comer”.

Uma alimentação saudável deve ser baseada em práticas alimentares, mas hoje pela comodidade, pela globalização dos alimentos, pela facilidade de ir ao mercado e de comprar uma hortaliça, uma couve, uma alface, até os mais idosos não se alimentam mais dessas plantas.

“Muitos podem associar as PANC a pobreza porque o consumo dessas espécies remete a momentos difíceis de privação e escassez. Então o nosso desafio, o meu desafio como mestranda em Sustentabilidade na Gestão Ambiental é pesquisar, resgatar esse conhecimento nas populações”

Mas, espera ai! Comer PANC não significa sair colhendo toda plantinha que surgir no caminho, é necessário cuidado. É importante ler bastante a respeito e ter certeza das características do alimento para a saúde antes de ingerir.

E para nos ajudar, Marilua faz questão de citar um exemplo de PANC muito conhecida por nós, o Jambu. O Jambu é uma erva muito utilizada na culinária do Norte do Brasil. O sabor de suas folhas lembra um pouco o agrião. A planta possui vitamina C, grande aliada no crescimento de cabelo e unha.

“Aqui no Centro-Oeste, Sudeste, e Sul, a maioria desconhece a existência do jambú. Já no Amazonas e Pará,  o jambú não é considerado PANC porque é uma hortaliça convencional. Mas, é uma hortaliça espontânea, é uma hortaliça de uso do caboclo, de uso indígena. É uma PANC, embora no Norte não seja”.

Assim como o jambú, Marilua garante que as plantas negligenciadas como alimento, podem ser incorporadas na alimentação do dia a dia em saladas, cozidos, refogados, arroz, feijão, farofa. E ela encara como missão e desafio fazer com que as pessoas percebam essas plantas como alimento, ensiná-las como usar na alimentação de forma segura para não ter risco de intoxicação, no caso de algumas espécies que precisam ter preparo mais específico.

Precisamos enxergar as PANCs para o nosso bem e das pessoas em vulnerabilidade alimentar.

***Marilua Feitoza é jornalista, herborista e mestranda em Sustentabilidade na Gestão Ambiental. Escreve sobre plantas medicinais e PANC para a Editora Europa e cultiva suas próprias plantas medicinais em seu sítio para os cuidados da saúde da família.

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