25.3 C
Manaus
26/02/2025
Portal Castello Connection
ArticulistasMarilua Feitoza

PANC: Plantas que alimentaram nossos ancestrais e que podem ser a chave para uma alimentação mais saudável e sustentável

Foto: Marilua Feitoza

Era comum, no passado, as populações de diversos lugares do mundo atravessarem grandes privações alimentares. Para os nossos antepassados, as plantas alimentícias silvestres que nasciam espontaneamente na natureza significavam um importante recurso de sobrevivência, sobretudo em tempos de maior escassez.

Essas plantas alimentares, com o advento da industrialização dos alimentos e da monocultura de poucas espécies, tornaram-se pouco conhecidas e estão caindo em desuso. No entanto, elas acompanham a humanidade desde sempre e coevoluíram com as grandes civilizações. Muitas delas habitam o mundo até hoje, sendo utilizadas ainda (porém, com risco de se extinguirem) na alimentação regional de povos tradicionais, como exemplo, indígenas, ribeirinhos, caiçaras e quilombolas.

Conceitualmente, as plantas espontâneas alimentícias, silvestres ou selvagens, naturalizadas ou nativas, são espécies vegetais que não passaram pelo processo de cultivo e de domesticação pelo Sistema Agroalimentar convencional. Elas nascem espontâneas e completam o seu ciclo sem a interferência humana. Algumas delas, inclusive, já foram domesticadas pelo ser humano e deram origem a alimentos convencionais consumidos globalmente.

Recentemente, essas espécies alimentícias ganharam o nome de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). Um termo que funciona como um “guarda-chuva” para abrigar o maior número de plantas alimentícias desconhecidas e subutilizadas pela maioria da população: hortaliças tradicionais, frutos silvestres, raízes, flores comestíveis, sementes e resinas com potencial alimentício.

As PANC são plantas ou partes delas que servem como alimento, mas cujo potencial nutricional é desconhecido ou subutilizado pela maioria da população de uma determinada área, região ou país. Elas podem ser nativas ou exóticas, cultivadas ou espontâneas. Em seu estado espontâneo, elas nascem e vegetam em quintais, terrenos baldios, hortas, pastos, frestas das calçadas, plantações, vasos de plantas ornamentais, bordas de mata e na floresta. São consideradas espécies rústicas, adaptáveis, resilientes, abundantes na natureza, nutritivas e medicinais.

Essas espécies alimentícias pouco conhecidas atualmente, as PANC, apresentarem grande potencial nutritivo, além de serem uma importante ferramenta de diversificação alimentar das populações brasileiras. O consumo das PANC, certamente, apresenta inúmeras vantagens e benefícios para os seres humanos e para o meio ambiente. Para a dieta humana, a ingestão dessas espécies proporciona fontes de micronutrientes e outros fitoquímicos importantes para a saúde. Para o meio ambiente, são espécies que colaboram para a preservação da biodiversidade.

Inúmeras pesquisam apontam que o incentivo de cultivo e da coleta dessas plantas para o uso alimentar pode diminuir a dependência excessiva do consumo dos poucos vegetais produzidos pela agricultura convencional, baseada na monocultura de poucas espécies. Isso significa mais diversidade e sustentabilidade aos Sistemas Alimentares, diminuindo também a pressão ambiental sofrida pela monocultura.

O consumo de PANC, por sua vez, pode melhorar também a qualidade da alimentação das famílias em estado de vulnerabilidade socioeconômica, uma ferramenta fundamental na luta contra a insegurança e a monotonia alimentar dos brasileiros. Uma dieta biodiversa, certamente, é fundamental para melhorar a saúde humana. Nesse contexto, as PANC são protagonistas, pois tratam-se de alimento disponível, abundante, nutritivo e resiliente.

Este texto foi retirado da dissertação de mestrado de Marilua Feitoza, mestre em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela UFSCar, campus Sorocaba – SP.

Relacionados

A angústia de vivenciar a crise climática

Marilua Feitoza

O Brasil que esperamos ver na COP30

Marilua Feitoza

Justiça climática e engajamento da sociedade civil: o que esperar da COP30

Marilua Feitoza

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Entendemos que você está de acordo com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Leia mais