Raoni foi a Belém para participar das reuniões que antecederam a Cúpula da Amazônia, evento que começa nesta terça-feira (8/8) e que vai reunir presidentes e líderes de todos os países da região amazônica, além de outras nações convidadas.
Ao longo de sua história, Raoni já se manifestou contra madeireiros, grileiros e garimpeiros. Agora, sua atenção está voltada para o que considera ser um novo perigo dos povos indígenas: a exploração de petróleo na Amazônia.
“Vou pedir para o Lula não explorar o petróleo na Amazônia”, disse Raoni em entrevista exclusiva à BBC News Brasil.
O pedido será feito em meio a um momento delicado para o governo Lula.
O petista convocou a Cúpula da Amazônia com o objetivo de obter uma posição conjunta dos líderes da região em torno de temas como a preservação ambiental. A ideia é que esses países cheguem unidos nas negociações da 28ª Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP-28), prevista para dezembro deste ano.
A cúpula caminhava para ser palco de uma pauta positiva do governo Lula, mas um dos principais temas debatidos por movimentos sociais e lideranças indígenas nos eventos que antecederam a cúpula foi a exploração de petróleo na Amazônia. Nas avenidas próximas ao local do evento, há cartazes espalhados contra a atividade.
O tema ganhou destaque em maio deste ano, quando o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou uma licença ambiental para a Petrobras perfurar um poço exploratório em um bloco localizado na bacia sedimentar da Foz do Rio Amazonas, na costa do Amapá. O órgão alegou que o plano de segurança apresentado pela estatal não era suficiente para que o poço fosse liberado.
A estatal e o Ministério de Minas e Energia (MME) reagiram e defendem a pesquisa e exploração de petróleo na Margem Equatorial, região que vai da costa do Amapá à do Rio Grande do Norte.
Lula, até agora, não se posicionou de forma enfática sobre o assunto. Questionado sobre o assunto em maio, ele disse achar “difícil” que a exploração de petróleo na bacia da Foz do Rio Amazonas prejudique a Amazônia.
“Se explorar esse petróleo [da foz do Amazonas] tiver problema para a Amazônia, certamente não será explorado, mas eu acho difícil, porque é a 530 quilômetros da Amazônia”, disse o presidente.
A ambiguidade da posição brasileira sobre o tema chamou ainda mais atenção depois que, em julho, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, defendeu publicamente o fim da exploração de petróleo na Amazônia.
Membros do governo dizem que a área pode ser um novo “pré-sal” do Brasil e que o país não poderia abrir mão desse tipo de riqueza. Mas o argumento econômico não convence Raoni.
Há expectativa de que ele se encontre com Lula nos próximos dias, durante a cúpula, e ele promete que vai falar com o presidente sobre o assunto.
Na entrevista, o cacique elogia o que considera como avanços na política indigenista do atual governo, e diz que os indígenas já teriam “perdoado” os governos do PT pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.