A prefeitura de Manaus planeja para abril o lançamento de um projeto que tem o objetivo de restaurar áreas verdes que estão degradadas na zona urbana, apostando que a mudança pode ajudar a reduzir o calor na cidade. Em 2023, a capital do Amazonas enfrentou a maior seca da história e teve a maior temperatura já registrada pelos termômetros, 39,2°C em outubro.
O futuro programa é uma das duas apostas da gestão municipal para obter recursos do Fundo Amazônia, iniciativa do Brasil que reúne doações de países como Estados Unidos e Alemanha para investimento em ações sustentáveis na região. A expectativa é que o projeto seja apresentado ainda no primeiro semestre.
Os primeiros detalhes da iniciativa foram informados pelo titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudança do Clima (Semmasclima), Antonio Ademir Stroski.
“Temos uma atenção muito especial com as regiões Norte e Leste de Manaus, porque são extensas e têm áreas com a presença importante desse problema de calor, de impermeabilização, extensas áreas que precisam ser recompostas, que tiveram uma perda de vegetação muito expressiva”, disse o gestor.
De acordo com levantamento divulgado nesta semana, o Fundo Amazônia já acumula R$ 4,3 bilhões em caixa. O programa financia atualmente 40 projetos e já tem uma fila de 56 propostas que aguardam verbas. Ainda segundo a reportagem, dos 40 projetos em andamento, 18 estão atrasados e tiveram o prazo de conclusão adiado.
Arborização
O dado oficial mais ‘recente’ sobre arborização em Manaus é do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o órgão, já naquele ano, Manaus tinha 25,1% de cobertura vegetal nas zonas urbanas, a segunda pior entre as capitais do país. Em outras palavras, apenas um a cada quatro residências possuía uma árvore no entorno.
Segundo especialistas, a falta de áreas verdes contribui para o surgimento das chamadas ilhas de calor. Este fenômeno climático urbano acontece principalmente em áreas da cidade com alta concentração de materiais como asfalto, concreto e superfícies escuras, que absorvem mais calor.
“No ano passado, nós tivemos um cenário que nunca tínhamos vivido antes. Eu moro há 45 anos em Manaus. Foi um evento extremo, uma conjugação de fatores, aquelas nuvens de fumaça, a maior seca da história”, lembra o secretário.
De acordo com Stroski, o projeto deve focar no plantio de árvores nas margens dos igarapés da cidade e em terrenos abertos sem vegetação, nos dois casos para combater as ilhas de calor. “Ainda não posso nominar, porque faremos um evento para apresentar essa iniciativa de maneira formal à população, mas ele já está sendo discutido, sendo feita a composição, estabelecendo parcerias”, ressaltou.
O segundo projeto que deve ser apresentado ao Fundo Amazônia, esse menos avançado, trata da orientação à população da zona rural para realização de roça sem o uso do fogo. Essa é considerada uma das ‘faíscas’ para grandes incêndios que atingem a floresta, em especial quando saem do controle.
Plano
Em maio de 2023, a Semmasclima assinou um acordo de cooperação com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para a elaboração do Plano de Ação Climática de Manaus. O documento, que ainda não está pronto, se mostrou ainda mais necessário meses depois, quando a cidade enfrentou ondas de calor e a seca histórica.
O secretário de Meio Ambiente garante que o plano sai neste ano, em especial porque é considerado a base de iniciativas que a prefeitura vai tocar neste tema. Aliás, em dezembro de 2023, após a crise socioambiental na cidade, a pasta teve o nome alterado para incluir o termo ‘Mudanças Climáticas’, passando a se chamar Semmasclima. O plano deve trazer orientações sobre uso de energia, emissão de gases nocivos, mobilidade e outros temas.