As empresas da Zona Franca de Manaus já se preparam para um período de 60 dias com restrição na navegação do estado durante a estiagem prevista para o segundo semestre deste ano. O temor é que o fenômeno seja similar ou até pior que a seca do ano passado, quando a indústria do estado precisou gastar cerca de R$ 1,4 bilhão a mais com custos extras de logística.
O dado acima foi informado pelo Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), que realiza nesta terça-feira (28) um novo encontro com executivos das empresas para debater a estiagem. A reunião trará palestrantes de órgãos que monitoram o movimento de subida e descida dos rios e o volume de chuvas na região.
“Os debates servirão para remover chutes e boatos. A ideia foi juntar os principais especialistas nesta previsão de futuro. Quem edita os boletins que todos consultam. Quem melhor entende de meteorologia da região com modelagem matemática. Quem mais entende dos leitos dos rios da região, em especial do Madeira”, afirma o coordenador da Comissão de Logística do Cieam, Augusto César Rocha.
No ano passado, a estiagem histórica reduziu e até impossibilitou a navegação em diferentes trechos de rios vitais para a logística do estado. Dentre eles: Madeira, Solimões, Negro e Amazonas. Empresas precisaram reduzir ou paralisar a produção, dar férias coletivas e até fazer demissões em massa.
“Não acreditamos em redução da produção neste ano, porque estamos melhor preparados e informados. Para este ano, cabe a cada empresa tomar a sua decisão. O que temos feito é atuar institucionalmente e fazer estes Fóruns para aumentar ao máximo possível o nível de informações. Precisamos ter muita clareza sobre o cenário, mas baseado em fatos e dados. De maneira geral, as empresas estão se preparando para um cenário de até 60 dias de restrições com mais estoques e planos operacionais de transbordo alternativos”, ressalta Augusto Rocha.
O termo ‘transbordo’ se refere ao ato de transferência de uma remessa de um meio de transporte para outro. Atualmente, os insumos utilizados nas linhas de produção da Zona Franca vem, em maioria, de países da Ásia. O percurso, que chega a durar 60 dias, inclui um trecho pelo oceano Pacífico, seguido pelo rio Amazonas até chegar em Itacoatiara (AM) ou Manaus.
Soluções
No mês passado, o Grupo Chibatão, que opera um dos principais portos de Manaus, anunciou que planeja a instalação de um porto temporário na região da enseada do rio Madeira, no Amazonas. O plano é fazer a transferência de cargas de navios para balsas. Com isso, as balsas poderiam levar os materiais até Manaus e os navios, mais leves, também poderiam fazer o mesmo percurso.
Além desta solução, os governos estadual e federal apostam na dragagem (escavação) dos rios como uma das principais medidas para permitir a navegação no período. Essa resposta, porém, é vista com cautela por industriários, que entendem que a dragagem dos rios no ano passado começou tarde e não resolveu o problema.
“Pedimos aos órgãos que seja feito um estudo para uma solução definitiva. Temos até dúvidas se a dragagem é a melhor solução. O Porto Chibatão entregou em abril um estudo ao Ministério dos Transportes que custou cerca de R$ 20 milhões. Este estudo deveria ter sido feito pelo governo e ele não será o único necessário para a compreensão total do problema e o encontro das melhores soluções”, avalia o coordenador de Logística do Cieam.
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No mês passado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) divulgou que já mapeou os pontos principais de dragagens regulares, sem citar outras possíveis soluções. Os trechos considerados críticos para receber dragagem são os mesmos que sofreram com a redução da navegação em 2023: Codajás – Coari; Tabocal –
Já a Defesa Civil do Amazonas, que prevê uma seca similar ou pior que a de 2023, já realizou mais de 80 reuniões com órgãos públicos, empresas e instituições do Amazonas. Dentre elas, está o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM), que foi alertado sobre a possibilidade de a seca prejudicar a ida de eleitores até os locais de votação, no pleito de outubro.
No dia 9 de maio, o governador Wilson Lima anunciou a emissão de licenças ambientais para a dragagem em quatro trechos de rios do Amazonas. Já a Defesa Civil informou que está em andamento a construção de um plano de trabalho estadual para que as secretarias atuem no planejamento prévio para minimizar os efeitos da estiagem.
*Fonte: Acrítica