31.3 C
Manaus
25/02/2025
Portal Castello Connection
Marcos De Bona

SING SING – Colman Domingo brilha ao lado de elenco inusitado

Foto: Divulgação

Drama
Roteiro: Clint Bentley e Greg Kwedar
Direção: Greg Kwedar
Com Colman Domingo, Clarence Maclin, Sean San Jose, David Giraudy, Patrick Griffin, Mosi Eagle, James Williams, Sean Dino Johnson, Cecily Lynn, Dario Peña, Miguel Valentin, Jon-Adrian Velazquez, Pedro Cotto, Camillo Lovacco, Cornell Alston.
EUA, 2023

Vídeo:

Não, não é um musical. Sing Sing é o nome de uma prisão em Nova Yorque onde nasceu um grupo de teatro. O projeto ganha as telas com atores do grupo original interpretando a si mesmos.

Chega às telas nesta quinta-feira, 13/02, este belo filme, baseado em uma história real, que possui um charme bastante peculiar acerca de seu elenco e possui 3 indicações ao Oscar: Melhor Ator para Colman Domingo, Roteiro Adaptado e Canção Original.

Colman Domingo é John Divine Whitfield, que está preso por um crime que não cometera. Teríamos aí uma boa premissa para um filme. O esforço de um homem para provar sua inocência, suas angústias vividas dentro da prisão. Uma amizade inusitada, que faz com que o protagonista ajude um colega em uma situação semelhante. Tudo isso está no filme, porém não é o seu grande foco. E por isso Sing Sing não é apenas mais um filme/série de cadeia.

Em 1996, foi fundado o programa Rehabilitation Through the Arts (Reabilitação Através da Arte). Que consistia na realização de Workshops de teatro para os detentos. Dessa forma os presos encenaram inúmeras peças. A participação no programa levou a uma melhoria significativa no comportamento dos detentos e diminuiu os índices de reincidência.

Passados mais de 15 anos, vários desses atores, agora ex-detentos, se reúnem para contar essa história nas telas do cinema. Olhando os créditos o que mais se vê é a expressão “as himself” (como ele mesmo). Do elenco principal, apenas Colman Domingo e Paul Raci, que faz o papel de Brent Buell, diretor e dramaturgo do grupo, são atores experientes. O próprio John Divine Whitfield faz uma pequena participação como “O Fã de Livros” um preso que adora ler e pede para o protagonista (inspirado no próprio Whitfield) autografar um livro que havia escrito.

Portanto o roteiro nos leva por duas tramas paralelas, dando menos atenção às dificuldades de John em provar sua inocência do que ao grupo de teatro fundado por ele. Nem por isso o filme esquece que estão todos na condição de presos. Os atores levam para os ensaios e para o palco, para o bem e para o mal, a bagagem adquirida nas ruas e na própria prisão.

PRIMEIRO ATO

O filme abre com a apresentação de uma peça pelos detentos. De trás do palco, vemos a plateia formada por presos, funcionários do presídio e membros da comunidade aplaudindo John Divine Whitfield (protagonista do filme), que acabara de fazer um monólogo encerrando a peça.

Pouco depois, cinco presos (os que dirigem o grupo) analisam a lista de espera de outros detentos que desejam entrar para o projeto. A escolha recai sobre Clarence Maclin (como ele mesmo), um traficante de drogas esperto e cheio de malícia. Que usa de seu “talento teatral” (uso aspas aqui porque ele ainda não estava no grupo de teatro) para intimidar um cliente que lhe deve dinheiro. Clarence é um personagem camaleão, funcionando algumas vezes como antagonista e outras como aliado de John.

INCIDENTE INCITANTE

A reunião seguinte é para decidir o próximo espetáculo a ser encenado. Depois de várias ideias, tudo indica que será escolhida uma peça escrita pelo próprio John. Porém o novato do grupo, cheio de personalidade, sugere uma comédia aprovada pelos demais. Aqui começa o embate entre John e Clarence. Por mais que seja velada, pois John evita o conflito à todo custo, a dinâmica de tensão e amizade estabelecida entre os dois personagens carrega o filme. O embate prossegue com Clarence “roubando” de John o único papel dramático da peça.

O roteiro se permite a liberdade de deixar um pouco de lado algumas convenções narrativas. Se há um incidente incitante, é sutil e muito pessoal, diz respeito somente ao protagonista. Não é algo como: o futuro do grupo de teatro está ameaçado. O segundo ato consistirá principalmente nos ensaios e na preparação da peça. O que aconteceria independente de Clarence sugerir uma comédia e “roubar” o papel de John (incidente incitante do roteiro). Aliás, a justificativa de Clarence para pleitear o papel também desejado por John é hilária!

SEGUNDO ATO

Agora o filme passa a exalar sensibilidade e a mostrar o poder do teatro. Por mais que o arco de Clarence seja previsível, é bonito de ver o detento evoluindo como ator em meio aos exercícios propostos pelo diretor, expondo gradativamente sua vulnerabilidade, algo fundamental no ofício da atuação. E para isso ele conta com a ajuda dos demais presos, principalmente John.

Outra característica do filme chama atenção. Além de Clarence, nenhum outro detento tem mencionado o motivo que o levou à cadeia. Não importa se são assassinos, ladrões, traficantes, o foco não é esse. O roteiro não julga àqueles personagens, mas também não é condescendente, não se trata de uma redenção. O filme demonstra que é possível reintegrar um criminoso à sociedade, lembro mais uma vez que o roteiro é baseado em histórias reais.

No segundo ato também se resolvem as questões envolvendo as solturas de Clarence e John. O que mexe significativamente com o comportamento de ambos, causando ainda mais conflitos que afetarão os preparativos para a peça.

Alguns podem enxergar a falta de conflitos mais exacerbados como um problema. Mas percebemos que é uma opção consciente dos roteiristas Clint Bentley e Greg Kwedar. O filme, de caráter episódico, consegue um bom equilíbrio na alternância entre situações vividas dentro e fora do grupo de teatro, sempre dentro da cadeia. Aos poucos os personagens, reais e fictícios, vão se desenvolvendo e nos conquistando em um filme bastante agradável de se ver, mas que não deixa de fazer boas reflexões. Sobre o papel da arte em nossas vidas, a ajuda do teatro na reabilitação dos presos e o comportamento humano.

0:18 – Roteiro: Clint Bentley e Greg Kwedar
– Direção: Greg Kwedar

0:26 – Estatueta do Oscar: Colman Domingo – Ator principal – foto
– Estatueta do Oscar: Roteiro Adaptado
– Estatueta do Oscar: Canção Original “Like a Bird”

0:50 – foto John Divine Whitfield real
– Trailer () – John Divine Whitfield: Protagonista

1:55 – “primeira imagem do filme” – Trailer (0:48)

2:28 – “Diretores do grupo se reúnem” Trailer ()

2:46 – Trailer (0:38) – Clarence Maclin: Aliado/Antagonista
– Fotos Clarence e John com um x entre ambos.

3:00 – Trailer (reunião dos presos)
3:15 – “aparece o Clarence” – Trailer (1:09)

4:22 – Trailer (John sozinho)
4:43 – Preparação da Peça – Presos com o figurino

5:28 – “ele é ajudado pelo diretor” – O diretor é um de cabelo cumpridinho, mais velho.
– em seguida imagens trailer (1:32)

5:47 – Cartaz Emilia Pérez sendo “rasgado”

6:04 – “soltura do John e do Clarence” Trailer (0:53)

6:14 – “mexe com as emoções dos atores” trailer (1:43)
– Momentos de desconforto de John

6:51 – Imagens Clarence no filme e em programas de entrevista

7:07 – “Poder do teatro” – trailer (0:32)
– em seguida imagens dos presos fazendo exercícios de teatro

Relacionados

O BRUTALISTA – A liberdade de cabeça para baixo. A falácia do sonho americano

Marcos De Bona

EMILIA PÉREZ – Um roteiro fraco e uma visão europeia e preconceituosa da América Latina

Marcos De Bona

A VERDADEIRA DOR – Belíssimo e reflexivo filme! Cujo roteiro não obedece aos cânones da narrativa clássica

Marcos De Bona

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Entendemos que você está de acordo com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Leia mais