25.3 C
Manaus
26/02/2025
Portal Castello Connection
ArticulistasMarcos De Bona

Wicked – Os contos de fada não são mais os mesmos. E por isso estão melhores!

Foto: Divulgação

Musical / Fantasia

Roteiro: Winnie Holzman e Dana Fox
Direção: Jon M. Chu
Com Cynthia Erivo, Ariana Grande, Michelle Yeoh e Jeff Goldblum

EUA, 2024

Vídeo:

Glinda, a Bruxa Boa do Oeste anuncia ter livrado a Terra de Oz de Elphaba, a Bruxa Má do Sul. Mas os contos de fada da Disney não são mais os mesmos.

Acaba de chegar aos cinemas, Wicked, filme que se passa no mesmo universo de O Mágico de Oz, o clássico musical de 1939, protagonizado por Judy Garland. Esse texto não vai ter spoiler, mas como você vai perceber, o filme dá alguns spoilers de si mesmo. Até porque é uma história que se passa antes dos acontecimentos de O Mágico de Oz.

Wicked é adaptado de um musical da Broadway de 2003 que fez muito sucesso. O musical, por sua vez, foi adaptado de um livro, assim como o filme original. O novo filme é bem fiel ao musical, as músicas são muito boas, grandiosas. O que confere ao filme um caráter também grandioso, e com um final apoteótico, típico dos contos de fada. Mas é preciso lembrar que esse filme, com 2 horas e 40 minutos, é apenas a primeira metade da história. Está previsto para novembro de 2025 o lançamento da segunda parte nos cinemas. Mas será que há material suficiente para mais 2 horas e meia de filme. Bem, o que eu posso dizer é que a primeira parte funciona muito bem!

PRIMEIRO ATO

Antes de aparecer qualquer imagem, cartelas anunciam que a bruxa má foi derrotada e que houve uma época em que os animais falavam em Oz. Um exemplo de como o filme faz spoiler de si mesmo. A câmera nos leva até o mundo Mágico de Oz e dá até para ver Dorothy e os seus amigos caminhando pela estrada de tijolos amarelos.

Então aparece Glinda, a Bruxa boa do sul, coprotagonista do filme. Que fala mais uma vez para os Chipmunks, um dos povos que habita o Mundo Mágico de Oz, que o mundo está livre da Bruxa má do Oeste. É interessante notar que Glinda está usando o truque da levitação. Sugiro que você guarde essa informação para quando assistir o filme e preste atenção bem lá no final, na última sequência.

Os Chipmunks comemoram efusivamente a morte da bruxa e começamos a desconfiar que algo está errado. Hoje em dia, é estranho um filme da Disney mostrar pessoas comemorando uma morte. A Disney tem evitado o maniqueísmo de antigamente e apostado em retratar o empoderamento feminino, tanto que as principais personagens são mulheres!

Alguém pergunta para Glinda, se é verdade que ela era amiga de Elphaba. A Bruxa Boa fica sem jeito, mas começa a contar a história da Bruxa Má. Portanto o filme é um grande flashback.

O roteiro não demora a mostrar que a Elphaba não é nem mesmo uma vilã. Aliás, ela é até mais protagonista do que a Glinda. E vai fazer isso contando a sua origem, um recurso conhecido de roteiro para humanizar personagens. Elphaba foi o fruto de um caso extraconjugal de sua mãe. Nasceu verde e foi renegada pelo pai. Dessa forma as roteiristas aplicam outro recurso bem tradicional, gerando empatia pela protagonista por meio do sofrimento.

Ao mostrar a infância de Elphaba, é introduzido um tema importante para o filme e para os dias de hoje: o preconceito, que acontece acima de tudo com quem é diferente. O roteiro deixa tudo muito escancarado, para não deixar dúvidas. Afinal o filme também se dirige a um público infanto-juvenil. E a diferença é evidente, na cor da pele da personagem. O preconceito geralmente é dirigido a uma minoria: de raça, classe social, origem, identidade de gênero, etc. Mas nesse caso não é nem uma minoria, porque Elphaba é a única pessoa que tem a pele verde. Dessa forma o roteiro nos faz sentir empatia por Elphaba e ficar com raiva de Glinda, ao contrário dos chipmunks. Assim o filme começa a apresentar aquela profundidade típica dos novos contos de fada.

INCIDENTE INCITANTE

Se o filme tem duas protagonistas o Incidente Incitante vai se dar quando as duas se conhecem, o que acontece na Universidade de Shiz. E nesse momento é introduzida uma personagem aliada. Madame Morrible é aliada de Elphaba, demonstrando que a personagem é mais protagonista que Glinda. Nesse momento, a Glinda é antagonista da Elphaba, e vice-versa. Ambas se odeiam com todas as forças.

E mais do que aliada, a Madame Morrible é uma típica Mentora, que enxerga o potencial de Elphaba e vai ajudar a protagonista a desenvolver e controlar os seus poderes para usá-los da melhor forma possível. Vamos notar que Morrible diz que Glinda não tem nenhum potencial para ser bruxa. Porém ela aparece levitando no começo do filme. Como isso aconteceu? É uma pergunta que deve ser respondida na continuação.

SEGUNDO ATO

Começa o segundo ato e o roteiro coloca mais motivos para termos empatia pela Elphaba. Ela é sempre atenciosa com Nessarose, sua irmã que vive numa cadeira de rodas. Também gosta dos animais, como o bode professor Dillamond. O último professor animal da universidade. Que tem a voz do Peter Dinklage, o anão de Game of Thrones.

Temos mais um comentário sobre preconceito, que vai gerar uma trama secundária do filme. Mais para frente alguém vai dizer que inventar um inimigo comum é a melhor forma de unir um povo. E nesse caso o inimigo escolhido foram os animais. Isso não é novidade, pois os inimigos sempre são os “diferentes”. E infelizmente, temos vários exemplos ao longo da história: para Hitler, os inimigos eram os Judeus, para o Trump são os imigrantes.

Com o tempo começamos a gostar de Glinda. Nos acostumamos com a atuação caricata e engraçada de Ariana Grande. Além disso, como foi adiantado no começo do filme, ela fica amiga de Elphaba. Portanto, de antagonistas, as duas personagens passam a ser aliadas.

Fica a pergunta de como e quando Elphaba vai “passar para o lado negro da força”. Como prometido, não darei spoilers. Posso apenas adiantar que o terceiro ato nos reserva grandes surpresas e reviravoltas.

Como a maioria dos contos de fada, aqui também temos um príncipe, porém o personagem não tem muita importância. Parece que só está ali porque um conto de fadas tem que ter um príncipe. Mas o que importa mesmo no filme são mulheres. E dessa forma a Disney segue se ressignificando, refletindo sobre o papel de homens e mulheres na atualidade e prestando um ótimo serviço às novas gerações.

Relacionados

O BRUTALISTA – A liberdade de cabeça para baixo. A falácia do sonho americano

Marcos De Bona

SING SING – Colman Domingo brilha ao lado de elenco inusitado

Marcos De Bona

EMILIA PÉREZ – Um roteiro fraco e uma visão europeia e preconceituosa da América Latina

Marcos De Bona

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Entendemos que você está de acordo com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Leia mais