De segunda a sábado Paulo Jorge trabalha como vendedor de picolés no Centro, em Manaus. Ele sai de casa às 9h e retorna por volta de 18h e leva essa rotina desde 1973. Experiente, conhece muito bem o “movimento” da clientela e também os pontos de descanso para se esconder do sol intenso da capital do Amazonas.
“Quanto tá muito forte o sol eu tento ficar nas sombras que eu acho pelo caminho. Você precisa fazer uma pausa, senão não tem condições de trabalhar”, explicou.
Quem também trabalha no Centro como vendedor ambulante é Reginaldo Lima. São cinco horas saindo de casa todos os dias com um carrinho de supermercado, uma caixa de isopor, gelo água e refrigerante.
Ele aproveita o calor de até 34°C no mês de maio para gerar a renda do sustento. Pela frequente exposição ao sol, não dispensa protetor solar.
“Uso muito protetor solar mesmo, tem que passar. Também não pode esquecer do chapéu e dessas camisas que eu uso com manga cumprida”, disse Reginaldo Lima.
Risco em potencial
Paulo Jorge e Reginaldo Lima são trabalhadores com potencial para desenvolver doenças por causa das mudanças climáticas. E, não estão sozinhos neste grupo.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que 70% dos trabalhadores do mundo estão expostos a graves riscos à saúde pelo mesmo motivo. Em 2023, por exemplo, a temperatura média do Terra ficou 1,5°C acima do registrado no período pré-industrial.
As doenças relacionadas à exposição prolongada ao sol são muitas, mas o câncer de pele é uma das mais preocupantes.
Câncer mais comum
O câncer de pele é considerado o tipo de câncer mais comum no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O relatório de estimativas da entidade para o triênio 2023-2025 prevê 704 mil novos casos oncológicos no país, deste total, 31% correspondem ao câncer de pele.
A Fundação Hospitalar de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta (FUHAM) é a unidade de referência no tratamento da doença no Amazonas. Ela atendeu 3.672 casos nos últimos seis anos (2018-2023) com uma média de 600 atendimentos anuais.
Grupos cancerígenos
O Ministério da Saúde explica que a doença surge quando as células da pele se multiplicam de forma desordenada até que dão origem ao tumor.
Ele pode classificado em dois grupos; o câncer de pele melanoma surge das células que definem a cor das pessoas e pode aparecer em qualquer parte do corpo. Ele é o tipo mais grave porque tem altas chances de se espalhar para outras áreas.
O câncer de pele não melanoma possui alta probabilidade de cura, mas se divide em dois subgrupos: o basocelular se caracteriza por uma lesão e tem evolução lenta enquanto o epidermoide surge, geralmente, se uma ferida, cicatriz ou queimadura.
O médico e diretor-técnico da FUHAM, Renato Cândido, explicou que na década de 1980 os casos de câncer de pele se concentravam de forma quase absoluta em pessoas de 50 anos ou mais, no entanto o que ocorre nos últimos anos é uma diminuição da faixa etária e o diagnóstico mais frequente em pessoas com 30 ou 20 anos. Cândido também alertou sobre s atenção os sinais que podem indicar o surgimento da doença.
“São aquelas feridas que sangram e não cicatrizam, é o excesso de sinais ou pintas pelo corpo”, explicou o médico.
Tecnologia em prol do tratamento
A Fundação Hospitalar de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta (FUHAM) realiza um procedimento considerado como a técnica mais refinada, precisa é efetiva para a remoção do tumor: A cirurgia micrográfica de Mohs. O cirurgião examina todas as bordas e a parte inferior da pele nas lâminas de um microscópio e, se ainda houver células cancerosas, marca a localização no mapa para a remoção.
Apesar do método avançado, a prevenção ainda é o melhor remédio contra a doença, ainda mais no mês em que é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pele (01) . Segundo o diretor-técnico o uso do protetor solar deve ser diário, com reaplicação a cada duas horas, no mínimo.
O Fator de Proteção Solar (FPS) recomendado é 30 ou mais. A proteção física também é essencial: bonés, óculos pra sol, roupas de manga longa com proteção UV. Aliado a isto, é preciso evitar a exposição prolongada entre 10h e 16h.
“Nesse período os raios solares são enviados de forma direta sobre a terra e assim o filtro natural da camada de ozônio perde a capacidade de absorver a radiação solar com intensidade” explicou o médico.
Referência no tratamento
A FUHAM é a unidade de referência para o tratamento, concentra a maior parte dos casos no Amazonas. Quanto mais rápido for o diagnóstico, mais chances de cura.
Os pacientes com casos suspeitos podem procurar unidades da saúde primária para o exame clínico, como a UBS. Se necessário, o caso pode ser encaminhado para a FUHAM.
O tratamento varia dependendo do tipo de câncer de pele, existe a possibilidade do uso de pomadas e cremes, mas também das cirurgias para remoção do tumor. Após é preciso fazer um acompanhamento médico de 5 anos.
*Fonte: Acrítica