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Cozinhar em casa para viver mais e melhor

Cozinhar em casa é uma boa maneira de enfrentar o sistema que nos diz o tempo todo que a comida pronta, comprada no mercado, é a solução para resolver nosso problema de falta de tempo.

(Foto: Divulgação)

Nas últimas décadas, ocorreram significativas mudanças nos padrões alimentares da população mundo afora. No Brasil, especialmente, as transformações sociais, ambientais e econômicas resultaram em alterações no padrão de saúde e no consumo alimentar. O consumo elevado de alimentos ultraprocessados, por exemplo, já é considerado um risco para a saúde pública dos brasileiros e está associado à obesidade e ao surgimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), não somente em adultos e idosos, mas também em crianças e adolescentes.

O problema é complexo e global. Produtos hipercalóricos e pobres em nutrientes, características predominantes dos produtos ultraprocessados, estão cada vez mais acessíveis nas prateleiras dos mercados, nas estratégias de marketing e na publicidade em redes sociais e programas de TV. A normalização da ingestão desses alimentos carrega a equivocada “bandeira” de que é possível se alimentar de forma mais prática, mantendo a qualidade das refeições. Isso é uma inverdade contada e repetida inúmeras vezes pela mídia e pela indústria com o único intuito de lucrar.

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Os alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas com ingredientes que você normalmente não usaria na cozinha, como óleos hidrogenados, xarope de milho com alto teor de frutose, aditivos químicos (corantes, conservantes, realçadores de sabor), além de muito sódio, açúcar e gordura saturada. Trata-se de produtos alimentícios com alta densidade calórica, baixo valor nutricional e grande presença de aditivos, considerados prejudiciais à saúde a curto, médio e longo prazo.

Podemos citar como exemplos de alimentos ultraprocessados prejudiciais à saúde e disponíveis em abundância nos mercados: suco de caixa, refrigerante, salgadinho, biscoitos recheados, carnes processadas (salsicha, hambúrguer industrializado, nuggets e presunto), refeições prontas (macarrão instantâneo, lasanha congelada, pizzas congeladas, sopas de pacote etc.), cereais matinais, molhos industrializados e temperos prontos em cubinhos ou sachê, além de muitos outros — a lista é grande.

Na contramão da alimentação embalada e ultraprocessada que adoece, estão os alimentos frescos e minimamente processados: frutas, verduras, legumes, cereais integrais, grãos, oleaginosas, azeites de boa qualidade, pães e laticínios artesanais, entre outros; comprovados pela ciência como alimentos que ajudam a manter a saúde e a longevidade.

Frear o consumo de ultraprocessados, sobretudo na infância e na adolescência é uma questão de saúde pública. Eu sei que o problema é complexo, mas existem soluções para o enfrentamento e, uma delas, é simples e ancestral: cozinhar em casa. Um belo prato de arroz e feijão com variedade de vegetais é considerado nutritivo, biodiverso e saudável, com potencial, inclusive, de prevenir doenças crônicas.

Cozinhar em casa é uma boa maneira de enfrentar o sistema que nos diz o tempo todo que a comida pronta, comprada no mercado, é a solução para resolver nosso problema de falta de tempo. Pode até ser… Mas, junto com a praticidade, pode vir um combo indesejável de doenças cardiovasculares, sobrepeso e até alguns tipos de câncer.

Desenvolver as habilidades culinárias domésticas pode ser fundamental para quem deseja comer comida de verdade, em qualidade e quantidade suficientes. Planejar os cardápios da semana com antecedência, fazer as compras baseadas no cardápio planejado, visitar feiras agroecológicas nos fins de semana (onde poderão ser adquiridos alimentos frescos e orgânicos), testar novas receitas, envolver os membros da família no ato de cozinhar, preparar marmitas e congelar, além de conciliar outras tarefas domésticas enquanto cozinha, como lavar roupa e a louça, otimiza o tempo e auxilia na prática do cozinhar como “prazer” e não somente como “dever”.

Bora cozinhar, gente!

Esse artigo foi escrito por Marilua Feitoza, jornalista, escritora, mestre em Sustentabilidade na Gestão Ambiental e doutoranda em Nutrição em Saúde Pública pela USP

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