No segundo dia do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que “não há uma única prova” de participação dele na trama golpista investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O advogado Celso Vilardi disse que Bolsonaro foi “dragado” para os fatos apurados e que não atentou contra o Estado Democrático de Direito.
“Um processo com base em uma delação e em uma minuta encontrada em um celular de uma pessoa que hoje é colaboradora da Justiça. Esse é o epicentro, essa é a pedra de toque do processo. A minuta e a colaboração. Daí em diante, o que aconteceu com a investigação da Polícia Federal e, depois, com a denúncia do Ministério Público é, na verdade, uma sucessão inacreditável de fatos”, disse Vilardi.
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“Foi achada uma minuta do Punhal Verde e Amarelo, uma minuta ou planilha de uma Operação Luneta e, como todos nós sabemos, ocorreu o trágico episódio de 8 de janeiro. Não há uma única prova que atrele o presidente ao Punhal Verde e Amarelo, à Operação Luneta e ao 8 de janeiro. Aliás, nem o delator, que eu sustento que mentiu, chegou a dizer ‘participação em Punhal, em Luneta, em Copa, em 8 de janeiro’. Nem o delator. Não há uma única prova”, completou.
Vilardi também questionou a confiabilidade do ex-ajudante de ordens e delator Mauro Cid, afirmando que ele mudou de versão diversas vezes durante os interrogatórios e que as contradições são motivo para anulação da colaboração premiada.
Segundo a defesa, foram entregues 70 terabytes de material, mas com prazo insuficiente para análise detalhada: “Nós não tivemos o tempo que o Ministério Público e a Polícia Federal tiveram. E não nós tivemos acesso a provas durante a instrução”, disse o advogado, ressaltando que a instrução começou em maio e que o processo envolve bilhões de documentos.
O julgamento começou nesta segunda-feira (2) e envolve Bolsonaro e sete aliados, considerados núcleo central da denúncia da PGR, que acusa os réus pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, defendeu no primeiro dia do julgamento que testemunhos, registros e documentos comprovam que Bolsonaro liderou uma tentativa de golpe para se manter no poder. Ele citou reuniões ministeriais, discursos e atos públicos, incluindo ameaças a ministros do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como evidências do projeto autoritário do ex-presidente.
Segundo Gonet, a manutenção da impunidade poderia comprometer o regime democrático, reforçando que a responsabilização de Bolsonaro e seus aliados é “imperativa” para o Estado de Direito.