CINEMA
Oeste Outra Vez
drama • ação • faroeste brasileiro
Roteiro e direção: Erico Rassi
Elenco: Ângelo Antônio, Babu Santana, Antônio Pitanga
“Você quer liberdade mas não sabe libertar.”
Essa frase é ouvida duas vezes por Toto, personagem de Ângelo Antônio nesse filme incrível, que pode ser classificado como um Faroeste Brasileiro.
Toto não aceita ter perdido Luiza para Durval. Ele age como se a personagem de Tuanny Araújo fosse sua propriedade. Por isso contrata um pistoleiro para matar o personagem de Babu Santana. O que desencadeia uma grande perseguição pelo sertão de Goiás.
O filme é essencialmente masculino, Tuanny só tem alguns segundos de tela, em segundo plano, enquanto Toto e Durval se agridem fisicamente.
Temos aqui a essência da masculinidade tóxica. De homens tão carentes quanto inseguros. Que fazem de tudo para demonstrar uma coragem e uma força que já não têm. É só aparência, só fachada, mas por dentro, estão dilacerados.
Suas mulheres os deixaram por sua total falta de habilidade de compreendê-las e de demonstrarem seus sentimentos. Quando tentam fazê-lo, é de forma tão torta quanto as árvores do cerrado que aparecem no filme.
E para preencher esse vazio, só lhes resta lutarem uns contra os outros. Como na mesa de sinuca do bar de Toto. Uma sinuca simplificada, que só termina quando um jogador mata o seu adversário, nesse caso, metaforicamente.
As árvores feias e empoeiradas do cerrado, contraditoriamente compõem belas paisagens. E os homens, feios por dentro e igualmente empoeirados, são personagens de um belíssimo filme.
Oeste Outra Vez, ganhador de 3 Kikitos no Festival de Gramado, incluindo melhor longa, é um filme atual, inovador e necessário.
Drop: Ameaça Anônima
thriller • mistério
Direção: Christopher Landon
Roteiro: Jillian Jacobs e Chris Roach
Elenco: Meghann Fahy, Brandon Sklenar, Violett Beane
Você não consegue largar o celular? E quando ele vibra anunciando uma mensagem, você consegue terminar o que está fazendo para depois atender? Esse ótimo thriller explora exatamente essa dependência, essa ansiedade, e a superexposição que vivemos por causa desse aparelho, das câmeras de segurança e dispositivos afins.
O filme abre com Violet, a protagonista, sendo ameaçada por um homem. Há um corte repentino, a cena fica perdida até que, no meio do filme, somos surpreendidos com o seu contexto.
Violet é uma mãe viúva super dedicada ao seu filho pequeno, que ficará aos cuidados de sua irmã enquanto ela, depois de muito tempo sozinha, finalmente vai a um encontro.
A personagem mal chega ao restaurante e começa a receber “drops”, um tipo de mensagem anônima enviada a um celular que está no mesmo ambiente. Ou seja, quem envia as mensagens também está no restaurante.
Chega Henry, o seu date, um fotógrafo bonito, simpático e charmoso. Ela pede para deixar seu celular em cima da mesa para receber mensagens da irmã. Ele concorda, aliás, Henry parece ser um cara muito legal.
O celular de Violet não para de vibrar, entre as mensagens que chegam de casa, continuam aparecendo os drops, Violet não resiste e abre uma dessas mensagens. Na prática ela está abrindo uma porta para o inferno. Ela descobre que há uma pessoa armada dentro de sua casa. E se ela não fizer o que o misterioso mensageiro pedir, seu filho será morto. Ela não pode sair do restaurante nem avisar ninguém. E também não pode deixar que Henry saia do restaurante. Violet fica obviamente muito nervosa, mas precisa permanecer simpática e sorridente, para não deixar seu date escapar. E Henry começa a ter o encontro mais estranho de sua vida.
Quando a protagonista recebe a ordem de envenenar Henry, entra numa espiral de desespero. E nós só podemos imaginar seu conflito interno. Vale a pena matar um inocente para salvar seu filho? Junto com a personagem, tentamos descobrir quem é o mensageiro, tornando o filme um “whodunnit”. Existem alguns suspeitos, e a tarefa não é nada fácil. Ao mesmo tempo ela se desdobra para manter as aparências com Henry, e dar um jeito de resolver a situação sem matar um candidato promissor para um futuro relacionamento.
Como num jogo de xadrez, o antagonista de Violet está duas jogadas á sua frente. Quando ela parece se livrar de uma armadilha, é novamente capturada. Acompanhamos o perrengue enfrentado pela protagonista na ponta da cadeira e nos perguntamos: ela vai conseguir salvar a vida de seu filho? E, para fazer isso, ela precisará matar o seu pretendente?
Drop: Ameaça Anônima é um thriller extremamente envolvente, que não deixa a peteca cair por uma cena sequer.
Operação Vingança (The Amateur)
espionagem • thriller • ação
Direção: James Hawes.
Roteiro: Ken Nolan, Gary Spinelli e Robert Littell.
Elenco: Rami Malek, Rachel Brosnahan, Holt McCallany, Laurence Fishburne
O que é mais importante, inteligência ou força bruta? Antes de responder é melhor saber o que se passa nesse filme.
Rami Malek (Bohemian Rhapsody) é Heller, um funcionário da CIA, extremamente inteligente e eficiente em seu trabalho de decifrar códigos. Vive um casamento feliz com sua esposa Sarah (Rachel Brosnahan, de Marvelous Mrs. Maisel). Até ela ser morta em um atentado em Londres.
Ao perceber que seus superiores não parecem muito empenhados em resolver o caso, e eles têm motivos para isso, Heller, embarca numa trama de vingança para matar, um por um, os 4 assassinos de sua esposa. E para isso ele irá contar principalmente com a sua inteligência, pois seu corpo franzino, típico de um nerd, não o ajudaria em um embate físico.
Operação Vingança consegue não ser apenas mais um filme genérico de espionagem ao apostar menos na ação e mais num roteiro muito inventivo e bem amarrado, apesar de esquemático, as mesmas características de seu protagonista.
A trama não se resume ao hacker nerd no encalço de 4 assassinos sanguinários. Há também uma boa subtrama sobre a conduta de seus superiores da CIA. Dois homens que agem por conta própria, desrespeitando princípios morais e legais. Seus segredos comprometedores são descobertos por Heller, que os chantageia tornando-se alvo dos mesmos.
Desde então o roteiro já estabelece os vários passos a serem dados para o protagonista cumprir sua missão. Como num jogo de videogame, Heller enfrentará fases cada vez mais difíceis, até se deparar com o adversário mais poderoso, o chefão dos bandidos, numa batalha final. Enquanto isso ele será perseguido por seus chefes da CIA, que colocarão mais obstáculos a serem superados.
Sempre usando seu intelecto, o protagonista cria artimanhas bastante elaboradas para despistar seus perseguidores. Ele vai cumprindo os passos de sua missão evitando usar uma arma de fogo e encarar seus antagonistas de perto. Pois o rapaz não possui um instinto assassino, o sangue frio necessário para atirar em alguém à queima roupa.
Resta saber se, apesar desse problema, nosso herói conseguira realizar plenamente a sua missão. Será que apenas a sua inteligência será o suficiente?
Temos aqui um bom filme de espionagem que consegue entreter fugindo do lugar comum.
STREAMINGS
Ainda Estou Aqui
drama
Direção: Walter Salles
Roteiro: Murilo Hauser e Heitor Lorega
Elenco: Fernanda Torres, Selton Melo, Fernanda Montenegro
Acaba de chegar no streaming o filme que nos enche de orgulho por ter dado o primeiro Oscar da história para o Brasil. A trágica e bonita história de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva que foi sequestrado e morto durante a ditadura militar.
Seus restos mortais jamais foram encontrados e apenas em 1996 a família conseguiu uma certidão de óbito em que constava que Rubens estava desaparecido desde 1971. E, por causa do filme, no ano passado, essa certidão foi corrigida informando que Rubens Paiva teve morte violenta causada pelo estado brasileiro.
O filme se tornou inacreditavelmente atual depois que Jair Bolsonaro foi indiciado por liderar uma tentativa de golpe de estado no final de seu mandato em 2022.
Voltando ao filme, ele relata a luta de Eunice para manter os seus 5 filhos. Um tempo depois, já nos anos 90 ela se torna uma importante ativista pelos direitos dos povos indígenas.
Eunice é interpretada com Maestria por Fernanda Torres, que ganhou o Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar. Não ganhou, mas merecia.
The White Lotus (temporada 3)
drama • ação • comédia
Criação: Mike White
Elenco: Carrie Coon, Walton Goggins, Aimee Lou Wood, Jason Isaacs, Natasha Rothwell
Chega ao fim a terceira temporada dessa série que tem feito cada vez mais sucesso. Seus episódios também foram superando os números de audiência chegando a 6,2 milhões de pessoas no último episódio.
O cenário dessa vez é a Tailândia e a série repete um pouco da fórmula das temporadas anteriores. Núcleos de personagens que passam uma semana num hotel de luxo. E cada um que resolva os seus problemas. A diferença é que a terceira temporada começa com uma cena de tiroteio que se passa no último dia da história e depois volta para o momento em que os hóspedes estão chegando. Portanto não temos um crime que acontece nos primeiros episódios, mas a gente fica tentando descobrir quem causou o tiroteio e por quê.
A série é tão boa e os conflitos entre os personagens são tão bem desenvolvidos que a gente fica cada vez mais interessado nos destinos daquele bando de gente rica e fútil. Mas será que todos eles são assim tão fúteis? São, uns mais outros menos. Trata-se de uma série que mostra gente rica e bonita sofrendo por ser rica e bonita? Será que isso desperta um lado sádico em nós que somos pobres e feios e adoramos ver aqueles riquinhos idiotas se dando mal?
A série, principalmente o último episódio, desperta vários sentimentos, até mesmo o preconceito.