As mulheres jovens brasileiras se mostram mais progressistas do que os homens em temas sociais, políticos e de direitos, segundo a pesquisa “Juventudes: Um Desafio Pendente”, divulgada nesta quarta-feira (5) pela Fundação Friedrich Ebert Stiftung (FES Brasil). O levantamento entrevistou 2.024 jovens entre 15 e 35 anos, em todo o país, e revela uma juventude mais engajada em causas sociais, mas com baixa confiança nas instituições políticas.
De acordo com o estudo, 65% das mulheres destacaram a importância de políticas de saúde, educação e combate à pobreza, enquanto os homens tendem a adotar posições mais conservadoras — padrão observado também em outros países da América Latina.
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A pesquisa mostra que 38% dos jovens se identificam com a direita, 44% com o centro e 18% com a esquerda. Ainda assim, boa parte demonstra valores ligados à igualdade: 66% apoiam a liberdade de orientação sexual, 58% o casamento entre pessoas do mesmo sexo e 59% defendem o acesso de pessoas trans à saúde.
No entanto, o aborto continua sendo um tema de resistência: 51% são contrários à legalização e 33% favoráveis. Para o diretor de projetos da FES Brasil, Willian Habermann, a juventude brasileira “não segue o manual conservador”, mas expressa contradições entre valores sociais e visão política.
“Esses jovens reconhecem o papel do Estado e querem políticas públicas que garantam direitos, mesmo quando se declaram de centro ou à direita”, explica Habermann.
Democracia em alta, mas partidos em baixa
Apesar de 66% afirmarem que a democracia é a melhor forma de governo, quase metade (49%) acredita que ela pode existir sem partidos. Além disso, 58% dizem preferir um líder forte a um sistema político tradicional, revelando uma crise de confiança nas instituições.
Os partidos são as entidades menos confiáveis (57%), seguidos pela Presidência (45%) e o Legislativo (42%). Em contrapartida, universidades, igrejas e meios de comunicação aparecem entre as instituições mais acreditadas pelos jovens.
Valores sociais e desafios econômicos
Entre os temas considerados prioritários, educação (86%), saúde (86%) e proteção ambiental (85%) aparecem no topo. Além disso, 60% defendem a taxação de grandes fortunas e 75% apoiam a autonomia de povos indígenas e comunidades tradicionais.
Mesmo com 68% satisfeitos com a vida pessoal, a maioria expressa insatisfação com a economia (46%) e com a situação do país (55%). A pesquisa mostra que jovens negros e de classes mais baixas são os que mais enfrentam precarização no trabalho e menor estabilidade.
Juventude digital e crítica
As redes sociais são a principal fonte de informação para 93% dos entrevistados, com destaque para YouTube (30%), WhatsApp (25%) e outras plataformas digitais (24%). No entanto, apenas uma parte verifica a veracidade do conteúdo, o que, segundo Habermann, indica o desafio de fortalecer o jornalismo de qualidade entre os jovens.
O estudo faz parte de uma pesquisa regional realizada em 14 países da América Latina e Caribe, que identificou uma tendência comum: a juventude valoriza a democracia, reconhece o papel do Estado e acredita no voto como ferramenta de transformação social.

