Finalmente está chegando aos cinemas o filme brasileiro mais premiado em Cannes e com boas chances no Oscar. Uma história que se passa noRecife em 1977, que junta drama, ação, suspense, investigação, e compitadas de comédia e surrealismo.
A primeira cena, no posto de gasolina, já é tensa e ótima! Logo depois o filme nos leva para uma imersão dentro daquela época, daquele ambiente culturalmente riquíssimo, cheio de nuances e contrastes. É carnaval, alegria nas ruas, mas o delegado aposta que o número de mortos no feriado vai passar de 100.
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Uma alegria disfarçada também habita o edifício Ofir, comandado por Sebastiana, vivida pela maravilhosa Tânia Maria, ela faz a sua parte dando um abrigo a quem está na situação Marcelo, personagem de Wagner Moura. Ele não está sendo perseguido pela ditadura, mas o fantasma do regime está sempre por perto e o clima de tensão é inevitável.
Quem personifica essa tensão misturada com uma certa trambicagem, é o delegado Euclides. Exalando aquele autoritarismo arrogante, de quem se acha inatingível. Ele é capaz de interromper a folia do carnaval para atender uma ocorrência com a boca ainda manchada de batom. Como define o Marcelo, é um escroto.
Depois de uma bela apresentação de todo esse clima e dos mais diferentes personagens no Recife. O filme continua equilibrando com maestria nuances de alegria e tensão. Somos apresentados aos verdadeiros vilões: matadores de aluguel e empresários da iniciativa privada.
O filme vai e volta no tempo e aos poucos a gente vai entendendo o que está por trás da história de Marcelo, ou Armando. Vítima dos podres poderes e do modo de pensar cheio de preconceitos daquela época. Situação que provoca uma cena fantástica com atuação exuberante de Alice Carvalho, que faz a esposa de Armando.
Aliás, as excelentes atuações são um caso a parte. Temos atores conhecidos como Thomás Aquino, Maria Fernanda, Gabriel Leone, Hermila Guedes, João Vitor Silva. Participações preciosas de IsabélZuaa, Carlos Francisco e Udo Kier.
Wagner Moura, segundo dizem, favorito ao Oscar, é tão natural que nem parece que está atuando. E é preciso destacar Robério Diógenes como odelegado e Joálisson Cunha como o atendente do posto na primeira cena. Duas figuraças, sensacionais. Num estilo bem diferente do Wagner, porque seus personagens pedem isso.
E como se tudo isso não bastasse, para substituir uma notícia de jornal censurada pela ditatura. O roteiro nos apresenta a história da perna cabeluda. O toque surreal que acrescenta mais uma nuance nesse filme riquíssimo, que flui muito naturalmente nas suas 2 horas e 40 minutos de duração.
O diretor Kleber Mendonça Filho confirma a grande fase do cinema nacional e a tradição do nordeste, especialmente Pernambuco, de produzir grandes filmes, que nos fazem sonhar e nos perguntar: seremos bicampeões no Oscar?

