Portal Castello Connection
CidadeGeral

O lago desapareceu, menos a esperança

Moradores do Lago do Aleixo perderam a fonte de renda e calculam os prejuízos gerados pela descida das águas.

Foto: Junio Matos

O cenário de escassez provocado pela vazante do rio Negro se intensificou durante o início da semana no Lago do Aleixo, na zona Leste de Manaus. Os moradores da região perderam a fonte de renda e calculam os prejuízos gerados pela descida das águas, onde a tendência é piorar a cada dia.

Quem passa pela orla, localizada no bairro Colônia Antônio, confunde o que antes era um grande lago, e hoje parece mais com um córrego, de tão intenso o nível da vazante. O contraste maior fica para as embarcações como canoas ou as casas flutuantes que estão encalhadas no barro seco e rachado pelo sol.

Acompanhe nosso 📌 Canal no WhatsApp

Foto: Junio Matos

Em uma dessas moradias vive o senhor Miguel Gomes, de 73 anos. Ele passa a maior parte do dia sentado, observando o lago ficar cada vez menor e desaparecendo a cada dia. A descida do nível da água também fez cair o rendimento dele, no pequeno comércio que abriu em casa, que não  vê clientes há cerca de um mês. Sem trabalho e sem familiares por perto, o idoso busca o que tem ao redor para sobreviver.

Foto: Junio Matos
“Com o que eu ganho não dá pra estocar comida, não. Daí, a gente, aqui e acolá pega um peixinho e vai vivendo até chegar o dia da gente trabalhar de novo com alguma coisinha pra vender” comentou Miguel.

No   ano passado, a intensidade da, até então, pior vazante registrada no Amazonas fez com que Miguel perfurasse uma cacimba em frente da casa. É  com a água de lá que ele toma banho, lava louças e roupa com a ajuda de uma bomba.

Foto: Junio Matos

O poço também ajuda outros moradores. Na região vivem atualmente seis famílias em flutuantes ao longo do lago e um dos mais novos da vizinhança é o senhor Rogério Silva, 55 anos, que se mudou há cinco meses para o local.

Ele investiu R$ 30 mil para comprar o flutuante e ganhar uma renda com o aluguel de canoas, mas não deu tempo de ver o retorno do investimento. E o que ele viu foi o rio secar cada vez mais.

“Vendi minha casa pra comprar o flutuante e fazer um dinheiro. Aí tem dez canoas pra alugar, tá tudo parado porque o rio tá seco e não passa nada. Essa é a minha fonte de renda, então não tenho condições de investir em outra coisa”, lamentou  Rogério. 

 

A esperança é esperar a temporada de cheia voltar, mas assim que o lago começar a encher os moradores vão ter que enfrentar os prejuízos nas estruturas das embarcações. O flutuante do Rogério passa por uma pequena reforma em uma das laterais.

Ele mesmo é o responsável pelo serviço, que avança lentamente por causa da falta de dinheiro para comprar mais materiais. A preocupação do autônomo, na verdade, é com as canoas. Expostas ao sol e encalhadas, não há madeira que suporte.

“Eu já fiz a conta aqui de umas oito que eu vou ter que reformar. O preço varia de caso pra caso, né? Mas vamos botar aí uma média de duzentos reais por cada uma delas” explicou Rogério.
Foto: Junio Matos
Difícil situação

A situação do Miguel já é um pouco mais complicada, o flutuante onde ele vive perdeu três “vigas” de sustentação. Elas ficam debaixo da casa e são responsáveis pela base de toda a estrutura. Para comprar novas ele estima ter que desembolsar R$ 1.500, fora a mão de obra que deverá ser contratada para realizar a manutenção.

“Eu não tenho ideia de quanto vou conseguir comprar porque a minha situação é essa aqui que você tá vendo, não tive dinheiro hoje nem pra comprar um pão” disse Miguel rindo da situação.

Cota do rio Negro

O rio Negro baixou 22 centímetros nessa sexta-feira,  conforme atualização do Porto de Manaus, chegando à cota de 16,75 metros. Em 2023, nesse mesmo dia, o rio havia vazado 28 centímetros, com a cota de 20,91 metros.

Na quarta-feira (11), a Prefeitura de Manaus decretou, por 180 dias, situação de emergência através do Decreto nº 5.983,  publicado no Diário Oficial do Município. Com a decisão, a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social pode adotar as medidas necessárias ao mapeamento dos riscos e à diminuição dos efeitos decorrentes da estiagem.

Entre as ações previstas estão: planejar, organizar, coordenar e controlar medidas a serem empregadas durante a situação de anormalidade; articular-se com as esferas federal e estadual a fim de combater a emergência; propor a contratação temporária de profissionais, aquisição de bens, materiais e contratação de serviços necessários à atuação.

Na próxima segunda-feira (16), o município vai iniciar a primeira fase da operação Estiagem, com a distribuição de cestas básicas e kits para as famílias das comunidades dos rios Negro e Amazonas. No total, são mais de 7,7 mil famílias, o que corresponde a cerca de 25 mil pessoas de 93 comunidades ribeirinhas da capital.

Em um primeiro momento, 43 comunidades do rio Negro, entre o Tarumã Mirim e o Apuaú, vão receber a distribuição de mantimentos e kits de higiene. No total, serão encaminhados para essas comunidades mais de 14 mil cestas básicas, 500 mil garrafas de água de 2 litros, 39 mil litros de gasolina e 46 mil litros de diesel.

*Fonte: Acrítica

Relacionados

Avião de pequeno porte cai em fazenda no Tocantins; uma pessoa morre

Ingrid Galvão

Feira Mística de Manaus reúne esoterismo, cultura e economia criativa com entrada gratuita

Ingrid Galvão

Dia de Finados: confira a programação nos cemitérios de Manaus

Thayná Sousa

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Entendemos que você está de acordo com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Leia mais