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ArticulistasMarcos De Bona

ROBÔ SELVAGEM – As aventuras de uma mãe robô de primeira viagem

Foto: Divulgação

The Wild Robot
Animação / Aventura

Roteiro: Chris Sanders e Peter Brown
Direção: Chris Sanders
Com Lupita Nyong’o, Pedro Pascal e Kit Connor
EUA, 2024

Vídeo:

Uma robô cai numa ilha cheia de animais e não tem a menor ideia do que fazer quando se torna mãe de um filhote de ganso. Mas para ela, missão dada é missão cumprida.

Acaba de chegar aos cinemas a mais nova animação da Dreamworks. Depois de sucessos como “Como Treinar o Seu Dragão” e “Gato de Botas 2”, esse novo filme vem sendo anunciado como o melhor já feito pelo estúdio. Como um bom filme de animação, possui várias camadas de significado. Portanto, garante o entretenimento de crianças e adultos, os primeiros se divertem com o visual e o carisma dos personagens, os segundos entendem as mensagens mais profundas.

PRIMEIRO ATO

A protagonista do filme é Roz, uma robô que cai numa ilha habitada somente por animais. Curiosamente, o filme não possui nenhum personagem humano, apenas robôs e animais. O que nos permite interpretar que se passa em um futuro distante, em que a humanidade foi extinta. Mas isso é apenas teoria.

Após cair na ilha, Roz começa a procurar uma tarefa a ser realizada, afinal ela foi programada para isso. Mas como na ilha só existem animais, ninguém consegue entender o que ela está falando. Muito menos passar uma tarefa para ela fazer.

Ela aprende a falar a língua dos outros bichos e tenta se comunicar com eles. Mas há uma dificuldade natural em se enturmar com seus novos colegas. Afinal, ela é um ser muito estranho ali, eles nunca tinham visto um robô.

E quando a protagonista, golpeada por um urso, rola morro abaixo nós temos o:

INCIDENTE INCITANTE

Roz atinge acidentalmente um ninho de gansos. O único sobrevivente é um ovo, de onde sai um filhotinho de ganso. E como a Roz é a primeira coisa que a criaturinha vê, pensa que ela é sua mãe.

Assim como uma mãe humana de primeira viagem ela não tem a menor ideia do que fazer. Mas mesmo sem ter recebido a programação adequada para uma tarefa tão específica, Roz assume seu papel e passa a viver as agruras e delícias da maternidade.

Como sabemos, uma mãe geralmente conta com ajuda de outras pessoas (de preferência o pai da criança). Mas no caso de Roz, não tem avó nem tia para dizer como ela deve proceder. Não tem avó nem tia, mas tem o Astuto. Astuto é uma raposa que não se dá muito bem com os outros bichos e por isso vive isolado, um típico malandro. No começo, ele não se furta a aproveitar de um pouco da inexperiência e ingenuidade de Roz. Mas mesmo assim, acaba funcionando como um mentor. Isso é possível porque Roz não tem a menor intimidade com a vida na selva, portanto o Astuto se torna bem importante para ela.

Temos a junção de um trio improvável: Roz, Astuto e Bico Vivo (nome dado pela robô e por Astuto ao filhote de ganso). Os 3 personagens se acolhem, por terem algo em comum. Astuto não se dá bem com os outros bichos, Roz está bem longe do seu ambiente, e Bico Vivo é excluído pelos outros gansos por ser bem menor do que eles. Assim temos uma bela metáfora sobre a sensação de pertencimento e sobre a nossa dificuldade em aceitar o diferente. Daí se originam preconceitos como a xenofobia, a misoginia, o racismo e o capacitismo, preconceito contra portadores de deficiência, representados pelo Bico Vivo.

Por ser menor que os outros gansos, teoricamente, o filhote não sobreviveria. Pois não seria capaz de fazer a migração junto com os seus pares. Mas para a Roz, missão dada é missão cumprida e, ajudada por Astuto, ela vai fazer de tudo para ensinar Bico Vivo a voar.

O que é mais fascinante nesse filme é o inusitado de ver uma robô, extremamente racional, percorrendo um arco de personagem. No começo ela é bastante pragmática, mas logo percebe que quando o filho quer ajudar, não interessa se vai atrasar a tarefa, ela tem que deixar ele participar.

E nesse arco de personagem Roz vai adquirindo instinto materno, deixando a sua racionalidade de lado e aprendendo a arte da improvisação, mais do que necessária para criar um filho. E também adquire arranhões, vazamentos de fluído e deixa algumas peças pelo caminho. Tudo isso simboliza o desgaste e o envelhecimento de uma mãe dedicada.

O roteiro usa o recurso do Clock Ticking, um prazo, para colocar tensão na história. Bico Vivo precisa aprender a voar até a chegada do inverno, quando os gansos vão fazer a migração.

O tempo passa e a Roz desenvolve um conflito interno. Depois de terminar a sua tarefa. Ela deve permanecer na ilha ou voltar para a fábrica de robôs? Além disso vai chegando a síndrome do ninho vazio e ela sofre antecipadamente sabendo que ficará longe do filhote (que, a essa altura já se tornou um ganso adolescente).

A pergunta que fica é: Bico Vivo vai aprender a voar a tempo de fazer a migração?

Normalmente essa pergunta seria respondida no clímax do filme, mas não nesse caso. Robô Selvagem, apresenta mais do que os 3 atos tradicionais da estrutura clássica de roteiro. O primeiro ato é a apresentação, o segundo é o treinamento do Bico Vivo. Já o terceiro vai se passar durante o inverno, enquanto os gansos estão migrando. O roteiro, muito bem escrito, apresenta vários plot twists. Que configuram os novos atos em que serão abordados novos temas. Como a união dos animais por um bem comum, a exploração do trabalho, liderança, preservação do meio ambiente, consumismo, capitalismo entre outros.

Robô Selvagem é um filme que nos conquista logo nos primeiros momentos, é inevitável simpatizar com aquela robô, que por ser racional demais, se atrapalha ao estar num lugar onde não deveria estar. Temos aqui um dos melhores filmes do ano. Uma indicação para o Oscar (de melhor filme) não me surpreenderia.

 

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