Com o objetivo de promover a conscientização sobre a importância da doação de órgãos, a campanha Setembro Verde busca desmistificar o tema e encorajar as pessoas a se tornarem doadoras. Para muitos pacientes em lista de espera, o transplante é a única chance de sobrevivência ou de ter uma vida com mais qualidade.
No Brasil, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é o único órgão que administra a fila de transplantes em todo o país. O número de pessoas que aguardam por um transplante ainda é grande: existem milhares de brasileiros na fila de espera. O estado do Amazonas segue o mesmo protocolo nacional, com a fila de espera gerida de forma única, gratuita e baseada em critérios médicos, sem qualquer tipo de privilégio para quem tem mais condições financeiras.
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Para a médica Bruna Borges, coordenadora do curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itacoatiara, a doação de órgãos é o maior ato de solidariedade que uma pessoa pode fazer. “É a oportunidade de dar continuidade à vida de alguém, uma chance de recomeçar”, diz. A profissional reforça que o ato não envolve custos para a família do doador, e que todos os procedimentos são de responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS). “É fundamental que as pessoas conversem com seus familiares e expressem sua vontade de serem doadoras, pois essa simples atitude pode salvar até oito vidas de uma só vez”, destaca a médica. Nesta entrevista, a médica esclarece os principais mitos e verdades sobre o assunto.
- Quando a doação é realizada o corpo fica deformado?
Mito. O processo de doação é realizado por uma equipe médica especializada em um centro cirúrgico. Após a retirada dos órgãos, a equipe reconstrói o corpo cuidadosamente, sem deixar nenhuma mutilação ou deformação visível. A aparência do doador é preservada, permitindo que a família realize o velório de caixão aberto, se assim desejar.
- É possível autorizar a doação de um único órgão?
Verdade. A doação de órgãos é um ato de solidariedade, e a família do doador tem o direito de decidir quais órgãos serão doados. Se a vontade for doar apenas os rins, o coração ou as córneas, essa vontade será respeitada. No Brasil, a doação só acontece com a autorização familiar, por isso, é fundamental deixar clara a sua vontade de ser doador para seus familiares.
- É possível autorizar a doação para uma pessoa específica?
Mito. A doação após a morte do doador é um ato anônimo. O receptor é escolhido através de critérios médicos na fila de espera única e nacional, que é gerida pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
- Quem tem melhores condições financeiras passa na frente na fila e até pode comprar um órgão?
Mito. A Lei nº 9.434/97, conhecida como Lei dos Transplantes, define que a prioridade na fila é baseada exclusivamente em critérios técnicos e médicos. A condição financeira, social ou qualquer outro tipo de influência não tem peso na decisão. A comercialização de órgãos é um crime grave, com pena de até oito anos de prisão.
- A doação de órgãos beneficia muitas pessoas?
Verdade. A doação de órgãos pode beneficiar até oito vidas de uma única vez. Dependendo dos órgãos e tecidos doados, o número de pessoas beneficiadas por um doador pode ser ainda maior. Ainda existem milhares de pessoas no Brasil que estão na fila de espera por um transplante, e para esses pacientes, a doação de um órgão pode ser a única chance de sobrevivência.
- A família do doador precisa arcar com os custos relacionados à doação?
Mito. Todos os procedimentos, desde a identificação do doador até a retirada dos órgãos, são de responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso inclui os gastos com a equipe médica, os materiais utilizados na cirurgia e o transporte dos órgãos.
- Quem recebe um órgão de uma pessoa passa a ter hábitos do falecido?
Mito. O órgão é um tecido biológico que substitui a função de outro que está doente. Ele não carrega a memória, as experiências ou a personalidade da pessoa falecida, portanto, o receptor não irá adotar a personalidade do doador. O que pode ocorrer é uma mudança na própria perspectiva de vida, oriunda de todo processo emocional envolvido na nova vida que acabou de “ganhar”.
- Pessoas que já tiveram alguma doença não podem ser doadoras?
Mito. A possibilidade de uma pessoa ser doadora não é definida apenas por seu histórico de saúde. A equipe de transplantes avalia cada caso individualmente, considerando a causa da morte e o estado dos órgãos no momento. Doenças crônicas controladas, como diabetes ou hipertensão, não impedem a doação. A inviabilidade pode ocorrer por conta de câncer, doenças neurodegenerativas ou infecciosas, mas cada caso é analisado pela equipe médica.
- Os médicos podem confundir a morte encefálica com o coma e retirar os órgãos de uma pessoa sem que ela esteja verdadeiramente morta?
Mito. Essa é uma dúvida muito comum, mas não há risco de confusão. A morte encefálica (ou morte cerebral) é a perda completa e irreversível de todas as funções do cérebro. É o fim da vida. Já o coma, por sua vez, é um estado de inconsciência profunda. No coma, o cérebro ainda está vivo e tem funções. A confirmação de morte encefálica segue um protocolo rígido com exames clínicos e neurológicos realizados por dois médicos diferentes que não fazem parte da equipe de transplante.
- É preciso deixar registrado em cartório que deseja doar órgãos?
Mito. Uma vez que a doação de órgãos é realizada mediante autorização familiar, não há necessidade de registro em cartório. O mais importante é deixar a família ciente da sua vontade, uma vez que ela é quem poderá decidir sobre a situação.
- O SUS é o único órgão que administra a fila de transplantes em todo o país?
Verdade. E isso é extremamente importante para garantir que haja justiça e transparência em todo o processo, uma vez que é uma fila única, gratuita e que segue critérios médicos para sua elegibilidade.
- As pessoas podem doar órgãos estando vivas?
Verdade. Isso é o que chamamos de doação em vida e pode ocorrer desde que não haja prejuízos para a saúde do doador. Um dos rins, parte do fígado ou medula óssea são exemplos de doação em vida. Se for para parentes até quarto grau, não é necessária autorização judicial. Em outros casos, é preciso provar que é um ato altruísta, sem envolvimento financeiro.
*Com informações da assessoria

