Uma pesquisa nacional revelou que menos de 40% dos estudantes dos anos finais do ensino fundamental do 6º ao 9º ano afirmam valorizar e respeitar seus professores. O levantamento ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes em 21 mil escolas do país e integra esforços do Ministério da Educação (MEC), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e Itaú Social.
O estudo, realizado durante a Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, também apontou que a percepção de acolhimento varia com a idade. Entre alunos do 6º e 7º ano, 66% se sentem amparados pela escola, enquanto nos do 8º e 9º ano esse índice cai para 54%. Além disso, apenas 45% dos adolescentes mais velhos confiam em pelo menos um adulto da instituição para receber apoio.
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A secretária da Secretaria de Educação Básica do MEC, Katia Schweickardt, destacou que ouvir os estudantes ajuda a criar políticas públicas adaptadas à diversidade das salas de aula. “Todo mundo aprende de um jeito diferente. O que a gente precisa é preparar os professores, o equipamento escolar, a comunidade, todo mundo para essas especificidades”, afirmou.
A pedagoga Tereza Perez, da organização Roda Educativa, reforçou que a tentativa de homogeneizar o ensino pode gerar evasão escolar. “A escola frequentemente negligencia a diversidade existente em cada sala, culpabilizando alunos que não aprendem e usando a reprovação como único recurso, o que muitas vezes provoca abandono escolar”, disse.
A pesquisa mostrou ainda que, apesar das dificuldades na relação com os professores, a socialização entre alunos é relativamente positiva. Oito em cada dez estudantes têm amigos com quem gostam de estar na escola, embora apenas 55% dos mais velhos considerem que o ambiente favorece amizades e interações sociais.
Quanto aos conteúdos considerados mais importantes, os alunos do 6º e 7º ano priorizam disciplinas tradicionais (48%), seguidas por temas socioemocionais (31%), habilidades para o futuro (21%) e direitos e sustentabilidade (13%). Entre os do 8º e 9º ano, as disciplinas tradicionais aparecem em 38%, corpo e socioemocional em 29%, habilidades para o futuro em 24% e direitos e sustentabilidade em 13%.
Patrícia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, ressaltou que os anos finais do ensino fundamental foram historicamente negligenciados por políticas públicas. “Nenhum outro país que acompanhamos teve coragem de escutar os adolescentes como parte da política pública. Queremos garantir que esta etapa nunca mais seja esquecida”, afirmou.
O levantamento evidencia a necessidade de fortalecer a relação entre professores e estudantes, além de adaptar o currículo escolar e a gestão das escolas para atender às demandas de uma fase marcada pela transição da infância para a adolescência.