Três anos após o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, a viúva de Dom, Alessandra Sampaio, dá continuidade ao legado do companheiro ao lançar o livro que ele deixou inacabado. Intitulada “Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas”, a obra foi finalizada por amigos sob a coordenação de Alessandra e publicada pela Companhia das Letras. O conteúdo é resultado das investigações de Dom na Terra Indígena Vale do Javari, onde ele foi morto em 2022.
Nesta quarta-feira (18), Alessandra participa do evento A Feira do Livro, na Praça Charles Miller, no Pacaembu (SP), ao lado de Tom Phillips e Otavio Cury, em uma atividade que celebra o lançamento da obra e a importância de sua mensagem.
Alessandra, que já trabalhou com artesanato, agora se dedica integralmente à missão de preservar o trabalho iniciado por Dom. Ela fundou o Instituto Dom Phillips, que atua na formação de jovens indígenas comunicadores, com foco em educação midiática, combate à desinformação e valorização das histórias dos povos da floresta.
“O Dom sempre teve uma conexão muito profunda com a natureza. Ele não era o tipo de jornalista que aparecia só para colher dados e ir embora. Ele se envolvia com as pessoas, com as histórias”, contou Alessandra em entrevista à Agência Brasil.
Dom conheceu a Amazônia como turista, e a experiência o marcou tanto que decidiu morar no Brasil em 2007. “A Amazônia é uma causa apaixonante. Ele dizia: ‘Se as pessoas conhecessem a floresta e os povos que vivem nela, naturalmente iriam se engajar em sua defesa’”, lembra a viúva.

Uma trajetória de transformação
Antes de se tornar referência internacional na cobertura de temas socioambientais, Dom Phillips iniciou sua carreira como repórter de música eletrônica na revista Mixmag, no Reino Unido. Foi no Brasil que ele passou a investigar os impactos da exploração econômica sobre o meio ambiente e os povos tradicionais.
Sua primeira matéria para o Washington Post abordou a exploração de ferro na Mina de Carajás, no Pará experiência que, segundo Alessandra, mudou profundamente sua visão de mundo. Ela conta ainda que Dom considerava sua editora no jornal americano uma verdadeira escola de jornalismo, graças à exigência e rigor com que tratava cada texto.
Foi por meio da confiança de lideranças indígenas que Dom teve acesso ao Vale do Javari. O líder Beto Marubo, ao ouvir sobre o jornalista por meio de um ashaninka, aceitou ajudá-lo. No início, o indigenista Bruno Pereira hesitou: “Vai trazer um gringo para cá que nem sabe andar na mata”, teria dito. Mas Beto garantiu: “O Bruno é meio reclamão, mas vai dar tudo certo”. E assim começou a jornada que terminou de forma trágica, mas que agora encontra continuidade e voz através do trabalho de Alessandra.