Representantes da indústria e do comércio amazonense criticaram a manutenção da Selic em 10,5% ao ano, decisão tomada pelo Conselho de Política Monetária (Copom) na tarde desta última quarta-feira (31). E afirmam que a medida prejudica o crescimento da atividade comercial e industrial.
Para a economista Denise Kassama, “não há mais justificativas para o Banco Central manter a taxa básica de juros elevada”. Para o presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Antonio Silva, manter a taxa nesse nível encarece o custo financeiro do crédito para as empresas.
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“Além do impacto direto, tem também o impacto indireto sobre as despesas financeiras ao longo da cadeia produtiva. Isso desestimula o consumo, e, por conseguinte, novos investimentos”, disse o empresário.
Antônio Silva ressaltou que, com a manutenção da taxa, é natural que ocorra uma contração do mercado frente ao alto custo financeiro suportado pelas indústrias e, de forma acumulada, pelos consumidores. Ele defendeu a retomada gradual da redução da Selic.
“Que o Copom retome o ritmo gradativo de cortes sobre a taxa básica de juros. Se considerarmos a taxa de juros real, que desconsidera os efeitos da inflação, o percentual ainda está muito acima da taxa neutra, aquela que não estimula e nem desestimula a economia, estimada em 4,75% ao ano”, destacou Antonio Silva.
Presidente da Associação Comercial do Amazonas (ACA), Bruno Pinheiro, também se manifestou contrário à elevada taxa de juros. Disse que ela provoca alto custo de empréstimos, redução do consumo, inflação e custo de vida, impacto no comércio a crédito e redução na competitividade internacional.
“Gera menor poder de compra e maior cautela dos consumidores em gastar, resultando em menor volume de vendas. As taxas altas podem aumentar o custo de vida, reduzindo o poder de compra dos consumidores. Além de dificuldades do comércio em oferecer condições de financiamento atraentes, afetando as vendas parceladas”, disse.
O presidente da ACA destacou que os empresários do comércio esperam uma taxa de juros mais baixa para alavancarem os investimentos. “Esses fatores podem levar a uma desaceleração nas vendas e afetar o crescimento dos negócios comerciais”, afirmou Bruno Pinheiro.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota, classificou a medida do Copom como cautelosa.
“Ajuda no tocante a conter o processo inflacionário, mas também em função da elevada taxa da Selic, que já foi muito maior e agora caiu para 10,5% e foi mantida. É claro que isso também acontece que o custo da movimentação bancária através de descontos de duplicata, de cobrança, também realmente passa a ser significativo”, disse Frota.
O empresário avalia que a decisão do Banco Central tenta conter a inflação e está relacionada, também, com o desempenho do governo federal em relação aos seus gastos.
“A Fecomércio vê esse assunto e tem que fazer uma abordagem de muita responsabilidade, que embora a taxa de juros sangre um pouquinho os custos da atividade econômica, nós temos que entender que o processo inflacionário é muito mais preocupante porque atinge a população de baixa renda, porque reduz o poder aquisitivo e, fatalmente, vai interferir na própria movimentação do comércio como um todo”.
O Copom explicou que a decisão foi motivada pelo ambiente externo adverso e pelo conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho doméstico que seguem apresentando dinamismo maior do que o esperado.
Sem justificativa
Para a economista Denise Kassama, a política financeira utilizada pelo Copom é “bem conservadora” e é uma estratégia para incentivar a poupança.
“Quando a taxa de juros está alta, e a taxa de juros do Brasil é uma das mais altas do mundo, significa que o governo está impondo uma política de reduzir o consumo e estimular a poupança, porque juros altos, se você deixa o dinheiro numa poupança, numa aplicação financeira, ele vai render mais do que consumindo”, disse a economista.
Kassama ressalta que, por outro lado, não há mais razões para manter a taxa Selic em alta.
“Já não há justificativas, no meu entendimento, para manter num patamar tão elevado, já que uma boa parte dos indicadores econômicos estão sinalizando melhorias na economia, inclusive aumento do emprego de carteira assinada, redução do desemprego e melhoria da renda”, avaliou.
A economista ressaltou que, no caso do Amazonas, com os indicadores de produção da Zona Franca de Manaus (ZFM) melhorando, a taxa é prejudicial. “Se você não consome, o comércio vende menos e consequentemente, demanda menos da indústria. O comércio emprega menos, a indústria emprega menos e não gera renda”, disse.
Kassama considera que o ideal seria a redução gradativa da taxa para dinamizar a economia.
“O ideal seria que realmente já houvesse um movimento de taxa decrescentes, inclusive você pode observar que várias entidades da indústria e do comércio também estão criticando a manutenção dessa taxa de juros alta. O Brasil precisa voltar a crescer, a gerar muitos empregos, está mais do que na hora”, ressaltou.